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Reflexões sobre violência

Humberto Gouvêa Figueiredo (*)

Segurança e violência são os temas do momento. Teóricos e leigos falam sobre o assunto expondo posições que, não poucas vezes, distanciam-se enormemente da realidade das ruas.

Parece que falar sobre violência virou moda, dá “status” e, no caso dos veículos de comunicação, rende preciosos pontos no “Ibope”, que repercutem diretamente na valorização dos espaços publicitários.

As pessoas “com voz”, responsáveis pela formação de opiniões, devem ter responsabilidade ao tratar de assuntos desta natureza, mormente pelo fato de que sua repercussão é direta na vida de todos os cidadãos, sejam os que moram na periferia ou os que habitam áreas nobres da cidade.

Não se prega a censura à notícia policial.

De outro lado não se pode admitir o sensacionalismo exacerbado, a supervalorização da violência e de seus resultados, quer quando o criminoso é preso pela Polícia, quer quando ele “se dá bem” no seu intento delitivo.

Pregar o “estado de terror” é uma postura abominável, mas que infelizmente é comum assistirmos e que nada de positivo ou educativo traz para o conjunto da sociedade; bem ao contrário, estimula a desconfiança, o pânico, o afastamento entre as pessoas e a discriminação.

A crítica à Polícia é outra rotina que se vê acontecer e que nada contribui para a diminuição dos níveis da criminalidade. Se esquece de tudo o que foi feito anteriormente pelos Agentes de Aplicação da Lei e se explora à exaustão o que se compreende como errado.

O policial é julgado e condenado antes de ser processado, de ter direito a se defender, de explicar sua ação.

Na semana passado aconteceu em Araraquara uma ocorrência policial gravíssima, quando em um bairro periférico, após roubo em um estabelecimento comercial, tivemos o trágico desfecho de três pessoas mortas e outras quatro feridas.

O fato, obviamente indesejado por toda a sociedade, não deve ser “cobrado” somente da Polícia e, em especial da polícia que tem o papel preventivo, ou seja a Polícia Militar. Se isto acontecer fica extremamente difícil alcançar solução para o problema, pois os argumentos se esgotam rapidamente e as alternativas se limitarão aos pedidos de mais policiais, mais viaturas, mais policiamento…Como se desejássemos um estado “policialesco”, um verdadeiro “BIG BROTHER URBANO”.

Como policial há quase vinte anos, às vezes tenho a impressão de que “enxugo gelo”, o que confesso, me traz uma certa frustração, mas que não me desestimula em minha missão. Ao contrário, me faz buscar ainda mais força para trabalhar pela minha comunidade.

Na Polícia Militar, em prol da sociedade, sacrificamos nossas famílias, deixamos de lado nossas dificuldades, expomos a risco nossa vida e ainda assim somos criticados pelo avanço da criminalidade, como se fôssemos a sua causa.

Na semana em que se deu a trágica ocorrência policial, apreendemos na cidade quase dez armas de fogo, foram presas doze pessoas em flagrante e grande quantidade de entorpecente.

Ainda assim tudo aconteceu e alguns apontam que por culpa da falta de policiamento…

A violência urbana precisa ser melhor estudada e debatida.

Precisamos sair deste discurso simplista de que violência é problema da Polícia e da Justiça, sob pena de chegarmos a um estágio de descontrole tal que nos colocará a todos na condição de vítimas.

O Estatuto do Desarmamento apresenta avanços na medida em que pune mais severamente o porte e o uso de arma de fogo, dando às Polícias um instrumento mais eficaz de punição ao infrator da Lei. Mas só ele não basta, é preciso mais: precisamos valorizar e colaborar com nossas polícias, precisamos mudar nossa cultura discriminatória, precisamos ser mais solidários, precisamos dar mais atenção a nossas crianças, precisamos dar mais oportunidades aos nossos jovens, precisamos de mais oportunidade de empregos, precisamos eliminar o analfabetismo, precisamos eliminar a fome…enfim, precisamos nos tratar e nos reconhecer como SERES HUMANOS.

Mudar esta lógica é necessário se o que quisermos de fato é a construção de uma Comunidade Pacífica!

(*) Capitão da Polícia Militar, Coordenador do Projeto de Implantação da Guarda Municipal, e colaborador do JA.

e-mail: hgfigueiredo@horizon.com.br

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