Quando os outros não fazem parte do jogo

Marilene Volpatti

É mais fácil culpar outras pessoas por nossos problemas do que tentar assumi-los.

Gustavo e André passaram a infância inteirinha brigando. Na maioria das vezes sempre terminavam com algum objeto da mesa ou estante voando e se espatifando no chão. Aí, então, o pai gritava: “Ah, não! De novo? Quem é o culpado desta vez?” Os dois se olhavam furiosos. “Foi ele!” “Não, foi ele!” O pai fazia de tudo para descobrir o responsável, que os meninos até o apelidaram de “Mr. Holmes”.

Vinte e cinco anos passados não culpam mais um ao outro. Na verdade, são umas das poucas pessoas que, pode-se dizer, assumem as responsabilidades sobre seus atos. A maioria costuma esquivar-se com grande facilidade. O ser humano é expert em um passatempo inútil e frustrante chamado “Jogo da Culpa”.

Vejamos o caso de Edite, 29 anos, que vive há cinco com seu companheiro Mauro. Atualmente ela reclama que só fazem amor poucas vezes por mês – 'culpa dele, naturalmente’. “Sinto que todas as minhas amigas se completam com seus parceiros, menos eu. Como posso não ficar chateada com ele?” Questionada a conversar com o parceiro, diz: “De jeito nenhum, é embaraçoso. Além do mais, ele é que deveria saber como me agradar”.

Jogando a oportunidade

Ao concentrar sua atenção no equívoco do companheiro, Edite está marcando passo e jogando por terra a chance de ser feliz.

Por que não partir para o diálogo? Porque é mais fácil culpar os outros pelos nossos problemas do que tentar resolvê-los. Se ela pusesse um fim nesse jogo, poderia transformar sua vida. Mas como dizem os analistas: “Se você assume o controle de sua vida ocorre uma coisa terrível: não pode culpar mais ninguém”.

Algumas vezes os outros são, de fato, responsáveis por nossos problemas – se não pelo total mas por parte deles – principalmente quando se instigam outras pessoas a nos prejudicar. Mas, deixando de lado essa excessão, analistas identificam dois tipos de Jogo da Culpa: “Perseguição é um deles: distancia de nossos sentimentos e nos mantém no controle da situação”. Executivos ou políticos, que são tidos como homens fortes, costumam usar esse recurso. Acalmam a ira do público jogando a culpa em alguém, pode ser a pessoa certa ou não.

O jogo de Edite é o outro tipo. Acusa colocando máscara de vítima. “Olha só o que você fez comigo” ou “Se não fosse você eu estaria…” e por aí afora. Com isso ela dá a falsa impressão que é impotente e não tem o mínimo controle da situação. É desta maneira que consegue ser atendida.

Edite impôs a si mesma um relacionamento insatisfatório – quando para ser feliz, bastava dizer ao seu companheiro o que esperava dele na hora de fazer amor. Naturalmente se o diálogo não desse resultado, aí sim ela poderia desistir dele, com a certeza de que havia feito de tudo para manter a relação.

O medo faz parte do Jogo da Culpa. Pessoas que acusam dizem: “Não é minha culpa” é porque têm pavor de assumir o controle da situação e de aceitar responsabilidades. É bem provável que Edite tenha medo da reação do companheiro, caso ela coloque os pingos nos is. Pode ser que até ache que uma relação insatisfatória é melhor do que nenhuma.

A curto prazo culpar alguém pode até trazer benefícios. Mas, a longo, serve para reforçar sentimentos negativos. Além do mais, quando participamos do Jogo da Culpa, permitimos que fatores externos controlem nossas vidas. Ao contrário, ao aceitar a responsabilidade, descobrimos a extensão de nosso próprio poder. Nessa caso, ganham-se maior nível de consciência, maior responsabilidade de escolha e, para completar, uma vida mais gratificante e bem menos estressada.

Jogo da vítima

Quando censuramos os outros, acontece de nos censurarmos também – e essa auto-acusação é muito prejudicial. Quer dizer, em outras palavras, ao identificarmos a nossa responsabilidade, não batamos em nós mesmos. Esse é o jogo da vítima e faz mal para nossa auto-estima. É a mesma coisa nos responsabilizarmos pelas misérias e guerras que assolam o mundo. É tão ruim como culparmos os outros por tudo (as duas coisas são um pretexto para sentirmos pena de nós mesmos). Quando sentimos que estamos caindo na cilada, fujamos rapidamente. Pode acreditar, isso não é difícil. É perfeitamente realizável. Podemos ter uma certa resistência em conversar, explicar e assumir nossos problemas sem acusar os outros. Mas, é só respirar fundo e conversar com quem estamos vivenciando uma situação confusa que iremos perceber que a parte cabeluda da situação nós é que inventamos como protesto, para não assumirmos nossos problemas.

Vale como lição

Temos, evidentemente, que superar obstáculos para deixar a mania de culpar os outros. O caso ocorreu com Evandro e sua irmã Dulce. Conta a irmã: “Dormíamos no mesmo quarto. Uma determinada noite, depois de uma briga pegar fogo, pensei que ele estivesse dormindo e dei, pra valer, um tapa na cara dele. No dia seguinte, ele contou para minha mãe. Rapidamente gritei: “É mentira dele! Não fique me culpando pelos seus sonhos doidos!” Por incrível que pareça, minha mãe acreditou em mim. Quando ela disse a meu pai: “Evandro sonhou que Dulce bateu na cara dele”. Naquele determinado momento me senti tão mal, mas tão mal que prometi a mim mesma nunca mais colocar a culpa em alguém pelas coisas que eu viesse a fazer. Mas também, por outro lado, nunca ninguém ficou sabendo, muito menos meus pais, a mentira que patrocinei naquele dia”.

Serviço

Consultoria: Drª Tereza P. Mendes – Psicoterapeuta Corporal – Fone:- 236-9225.

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