Elias Chediek Neto (*)
Meu caro amigo Geraldo Polezze, li seu editorial “Outorga onerosa em favor da CTA”, publicado na edição passada (21/07).
Como cidadão araraquarense, vereador, acionista e ex-presidente da Companhia Troleibus Araraquara-CTA, venho através desta esclarecer alguns pontos do seu comentário e acrescentar minha opinião sobre o assunto.
Primeiramente é bom recordar que a Paraty foi convidada a participar do serviço de transporte coletivo de nossa cidade por volta de 1981 quando da inauguração do Jardim Roberto Selmi-Dei.
Devido à distância e impossibilidade de se levar toda a infraestrutura para operar os ônibus elétricos, optou-se em oferecer essa linha à Paraty em troca do que ela arrecadasse na operação. Como tratava-se de um trajeto todo em terra, e não havia interpenetração de linhas, ou seja, a Paraty não “concorria” com a CTA, mas sim, auxiliava-a em uma linha difícil, acredito que no momento foi uma decisão acertada, levando-se em conta que havia pontos de integração entre os dois sistemas, elétrico e diesel, sem prejuízo aos usuários e aos envolvidos no transporte.
O prejuízo começou a surgir quando foram cedidas mais linhas à Paraty e esta passou a circular sobrepondo-se e concorrendo com as linhas da CTA.
Devemos lembrar que a CTA arca sozinha com a operação e manutenção do Terminal de Integração, com a venda de passes e gerenciamento do sistema. Não é justo que não seja cobrada da Paraty sua participação nessas despesas, bem como rever a “doação” de suas linhas.
É bom lembrar que a CTA, apesar de ser uma Sociedade Anônima, com cerca de 130 acionistas, não tem distribuído dividendos, sendo certo que esses valores têm sido aplicados na própria empresa, ou seja, ela não visa lucro aos seus “donos”; diferente de uma empresa particular que, após pagar o salário aos funcionários e desembolsar o necessário para ela continuar funcionando, repassa todo o lucro restante ao proprietário.
Assim sendo, entendo que a “concessão” das linhas à Paraty deva ser revista e amplamente discutida. Entendo também que a CTA e a Coordenadoria de Trânsito e Transporte devem exigir da Paraty os dados gerenciais das linhas em que ela opera (Quantidade de ônibus por linha, horário, arrecadação, extensão, IPK, etc…).
Por outro lado, a CTA deve rever a política de despesas efetuadas fora de sua atividade fim: o transporte coletivo.
Por mais meritória que seja a ajuda que a CTA vem fazendo a várias entidades entendemos que, pelas circunstâncias já descritas, ou seja, os “donos” (acionistas) não recebem nada, todo dinheiro aplicado para outros fins acarreta, obrigatoriamente, aumento de custos e reflexos no preço da passagem.
Como a maioria da população usuária do sistema de ônibus é de baixa renda, é ela que é penalizada com esse aumento de custo.
É imperioso rever essa política, pois agrava mais ainda o problema de distribuição de renda e riqueza deste país.
Mais justo seria que a própria Prefeitura assumisse os encargos desses “investimentos”, desde que justos, de tal forma que a população como um todo, e aí principalmente a de maior renda, passe a colaborar com esses programas paralelos, aliviando a CTA e permitindo uma redução ou não aumento de custo do transporte público.
Todas essas considerações já externamos, em particular, à Diretoria da CTA e no plenário da Câmara Municipal e esperamos que haja uma conscientização maior por parte dos responsáveis pelos destinos do nosso povo.
Contamos mais uma vez com o vosso apoio na divulgação deste comentário e parabenizamos pelo interesse e o bom senso do editorial.
(*) É vereador e responde ao editorial do JA.