Adequação e reforma de um prédio nos fundos do Pronto Socorro da Vila Xavier, a fim de ser instituída a ala de leitos-dia para portadores de HIV, ganha o nome de Clara Pechmann.
Causou-nos surpresa a comunicação desta homenagem e não poderíamos deixar de manifestar os nossos agradecimentos, porquanto, parte de nossa vida dedicada a AIDS, só foi de constante prazer e amor. Foi o período mais proveitoso de uma vida, num trabalho que permitiu um alto aprendizado, onde pudemos conviver com a dor, o sofrimento, a miséria, o preconceito, o desespero, o abandono, o desamor, a injustiça e outras coisas mais, porém que também, ofereceram-nos olhares de esperança, de resignação, de bondade, de aceitação, de verdadeiro e puro amor".
A homenageada, visivelmente emocionada, disse que, "ver o nosso nome ligado a esta Casa, cuja finalidade é ajudar a minorar o sofrimento dessas pessoas, simboliza muito para nós".
História
"Não podemos deixar de lembrar que aqui estivemos no Governo de Roberto Massafera, quando da inauguração do Consultório Odontológico e de duas salas de emergências, para atendimento dos Portadores do HIV. Isso veio ajudar muito o nosso trabalho, assim como temos a certeza de que o Hospital Dia, velha aspiração, em muito contribuirá para ajudar a minorar o sofrimento de muitos doentes e familiares, evitando uma verdadeira luta por uma vaga hospitalar ou a permanência desnecessária num Pronto Socorro, prejudicando aquele serviço ou ainda evitando que o doente permaneça em sua casa esperando a morte e convivendo com o sentimento do abandono.
Iniciamos a nossa parte com AIDS, quando ainda na Faculdade de Ciências Farmacêuticas, realizando a sorologia para diagnóstico do HIV. Assim, começamos a tomar contáto com famílias desesperadas. Iniciamos um pequeno trabalho que cresceu, especialmente com a adesão daqueles que foram perdendo seus familiares com o mesmo mal".
Calor humano
"Convidávamos os portadores para uma reflexão: por que AIDS? Por que aconteceu comigo? Mostrávamos que apesar de ser encarada como doença horrível que leva à morte, todos nós, indiferentemente, iríamos morrer. E a morte foi vencida pelas alegrias obtidas com os resultados dos exames após início de tratamento. Falávamos da solidariedade que foi trabalhada não apenas com os doentes, mas também, com a comunidade em geral. Respeito, amor e responsabilidade sempre foram temas abordados. Falávamos em como podemos amar a Deus, sem amar o nosso Próximo? Se amamos o nosso próximo precisamos ensiná-lo, orientá-lo, educá-lo pensando sempre num amanhã melhor.
Mostrávamos a beleza do nosso corpo físico, a grande máquina funcionando, os nossos órgãos interligados dando-nos a vida. A continuidade de nossa vida formando um novo corpo, uma nova vida. Mostrávamos a grandeza da nossa vida sexual, no prazer sentido com amor e nunca jamais fazendo amor. Intuímos o ato sexual que é e deve ser diferente do ato sexual dos irracionais. Entre nós humanos deve ser sempre um ato de amor, respeito e especialmente de responsabilidade".
Adesão
"E os nossos voluntários, esquecendo de si próprios lutavam para oferecer o melhor para todos. Estas e muitas outras pessoas que contribuíram financeiramente conosco merecem partilhar conosco desta solene homenagem. A alegria e a emoção é de todos vocês também.
Tentáculos
"A epidemia alastra-se para a zona rural e o pior é o aparecimento, especialmente nos casos mais recentes, de contaminados por vírus já resistentes ao tratamento. Estão surgindo outros subtipos, além do HIV sub tipo B, mais freqüente no Brasil e no mundo, como o subipo F e o pior o subtipo C. Já temos amostras coletadas em todos os estados brasileiros e o mais grave ainda, estão surgindo recombinações genéticas de dois ou mais subtipos.
E apesar da farta distribuição de medicamentos corremos o risco do reaparecimento de problemas sérios. É preciso lutar com os doentes e portadores para o cumprimento efetivo da aderência ao tratamento. É preciso trabalhar mais intensamente junto a comunidade, obter apoio não apenas de Instituições Municipais, Estaduais e Federais, mas também das Igrejas, Grupos de Trabalho, ONG… e não esperar apenas por um serviço médico para tratar doentes. É necessário Prevenir. É necessário pensar na vulnerabilidade das pessoas que se expõem ao vírus no seu dia a dia. É preciso ensinar a nossa comunidade temas como a sexualidade, o conhecimento do corpo humano, os prejuízos das drogas e tudo o que desprotege o homem. Falar muito sobre Maxismo e Sexismo e muitas coisas mais.
Prefeito Edinho Silva, dignas autoridades, srs, sras, meus amigos, muito obrigada pela atenção e os nossos agradecimentos em particular ao Sr. Prefeito Municipal em nosso nome, no de nossa família e tenho a certeza de todos os contaminados pelo HIV de Araraquara. (….)"