Marilene Volpatti
Não queremos que ninguém perceba que estamos mal. Emolduramos o rosto com um sorriso e fingimos que a vida é um mar de rosas. Vale a pena?
De repente, a vida vira pelo avesso. O som do carro é roubado. Pega-se uma tremenda infecção intestinal. O marido perde o emprego. Para economizar no aluguel, vai morar em uma casa menor, com uma pilha de contas para pagar. Se não bastasse, o filho está andando em más companhias. Por menos, muitas pessoas escapam, todo final de tarde, para chorar as mágoas com os amigos. Claro que morar numa casa pequena não é legal, mas acreditam que têm sorte em outros setores. Pela ótica pessimista, acredita-se que essas pessoas estejam morando em outro planeta, não na Terra.
Quem não conhece alguém assim, que sorri corajosamente diante das maiores contrariedades e não permite que nada a pertube? Parecem achar que, preservando a fachada, podem resolver qualquer problema. Evidentemente que a maioria se preserva – ninguém quer dar a cara para bater – mas para negar totalmente a sensação de vulnerabilidade é fugir de qualquer tipo de intimidade.
Exagero não é bom
Rose, 34 anos, é uma pessoa assim, o mundo pode estar desmoronando que mantém seu sorriso tranqüilo. Ela trabalha num escritório de contabilidade. No último dia de entrega do imposto de renda, estava todo mundo pegando fogo, correndo de lá para cá e os clientes pressionando. De repente, o sistema de computadores deu pane. Todos trabalharam como loucos, sem parar um instante. Foi um pesadelo. No final da tarde, quando sentaram para tomar um suco e espairecer, todos dizendo cobras e lagartos do dono do escritório – que havia desaparecido durante a crise – todos, com exceção da Rose, claro! Ela apenas sorriu e disse do alto de sua sabedoria: “A gente precisa estar preparado para dias como esse”. Tiveram vontade de esganá-la.
Além de mexer com os outros, esse tipo de comportamento não é bom para ninguém, especialmente se o problema é maior do que um dia desagradável de trabalho.
Analistas confirmam: “quando acontecem fatos ruins, temos que aceitar a emoção negativa. A resposta não é o otimismo falso ou o sorriso mecânico. O entusiasmo da boca para fora ou a repressão do nosso lado mais escuro são formas perigosas de auto-enganação”.
Disfarçando
Outro motivo que leva, principalmente as mulheres, a se disfarçar da dor é o medo de se expor, diante de desconhecidos. “Quando me casei com Alonso, comecei a freqüentar um círculo social totalmente diferenciado. De repente, ia a festas com mulheres que passavam a tarde toda em shoppings, chás em casa de amigas ou viagens internacionais constantes. A maioria com carreiras fantásticas -advogadas, agentes literárias, médicas, executivas… E lá estava eu, num começo de carreira que, se não fosse pelo meu marido, estaria com uma mão na frente e outra atrás”, contou Regina, enfermeira casada com um médico.
Sentindo-se por baixo, começou a exibir para a platéia uma vida perfeita, irretocável. Falava tanto em viagem, que dava a entender que conhecia o mundo todo. Certo dia deixou cair a máscara. Conheceu em uma festa de caridade, uma decoradora e resolveu se abrir. Ficou chocada ao saber que a vida dela era mais caótica que a sua: o marido à beira da falência e enfrentando problemas com bebidas. Mas a amiga era tão calma e dona de si, que mais parecia a Rainha da Inglaterra.
Embora as relações tenham mudado bastante nos últimos anos, ainda se espera que as mulheres alegrem a vida de todos que as rodeiam, que sejam ótimas companheiras, amantes fantásticas, mães generosas e profissionais supercompetentes.
Disfarce
Embora disfarçar seja contraproducente, algumas mulheres vão ainda mais longe: convencem a si próprias de que está tudo bem. Outras não têm o costume de ignorar os problemas; mas, confrontadas com uma grande contrariedade, podem reagir mergulhando freneticamente no trabalho e em atividades sociais, por exemplo.
A impressão que dá, é que se pusermos as dificuldades para fora, elas vão nos esmagar. Isso não é verdade. A máscara do entusiasmo também não funciona. Em determinado momento a realidade fala ainda mais alto e os problemas, inevitavelmente, vêm à tona. Resultado: as pessoas se sentem traídas ao descobrirem que aquela amiga esconde fatos importantes.
Por isso, se você acha que tem tendência a negar os fatos desagradáveis, lembre-se: a vida real, é muito mais interessante e gratificante do que toda e qualquer fantasia, por mais delirante que seja.
Serviço
Consultoria: Drª Tereza P. Mendes – Psicoterapeuta Corporal – Fone:- 236-9225.