Humberto Gouvêa Figueiredo (*)
Não sou palmeirense! Muito menos torço pelo Botafogo do Rio de Janeiro…
Gosto de jogar futebol e de assistir a partidas entre os grandes Clubes, mas a desorganização dos campeonatos, os indícios de irregularidades e o ambiente hostil dos estádios me fizeram optar pela televisão como o meio para acompanhar os eventos desta modalidade esportiva.
O futebol está no sangue do povo brasileiro.
Quase tudo o que acontece nos Clubes ou nos jogos é uma espécie de resumo do que se passa no dia a dia da nossa vida em sociedade.
Os dirigentes das Agremiações são uma espécie de “políticos”, a torcida é a “comunidade” e os jogadores são os “operários”, os “trabalhadores”, os “construtores de sonhos”.
Mas não quero me alongar neste preâmbulo e sim partir direto para algo que julgo oportuno para despertar a reflexão.
Já estávamos acostumados ao chamado “tapetão” e jamais imaginaríamos que Palmeiras e Botafogo fugissem à regra da “virada de mesa” para continuar na primeira divisão do Campeonato Brasileiro.
Como acontecia com freqüência neste meio, acreditávamos que os Times iriam usar todo o seu passado histórico e heróico, seus craques internacionalmente reconhecidos, para requerer a permanência na divisão principal do Campeonato.
Não acontece diferente na nossa sociedade: dá-se uma “mãozinha” para quem tem prestígio ou poder, quebra-se “galhos” para quem é incluído, e mais ainda se tiver poder de decisão ou for abastado financeiramente.
Em oposição a tudo isso, Palmeiras e Botafogo foram a luta na segunda divisão.
Foram humilhados por outras torcidas, discriminados por terem se submetido à justa regra do jogo, enfim, tratados como Clubes de segunda espécie.
A queda dos Clubes para um estágio inferior do campeonato serviu para unir ainda mais os “operários”, envolver ainda mais sua “comunidade” e gerar mais motivação e força a todos os que se sentem atraídos pelas Associações.
Quantas vezes sofremos derrotas em nossa vida e buscamos alternativas imediatistas para nos recolocar, sem querer se submeter às batalhas que valorizam a retomada da posição. As vitórias conquistadas com luta e sacrifício são duradouras e consistentes, diferentemente do que ocorre com conquistas obtidas por meio ardiloso, ilegal ou imoral.
Desconfie de tudo o que vem fácil…tudo o que é dado “de graça”!
Palmeiras e Botafogo nos mostraram que é possível se reconstruir depois do fracasso, que pode tornar-se ainda mais forte depois de uma derrota e que a humildade é característica dos obstinados, daqueles que não se contentam apenas com o sonho, mas que lutam para transformá-lo em realidade.
Mas o que creio mais importante ter sido produzido pelos dois Clubes é o precedente da moralização e da honestidade no futebol (e espero se reproduza para a sociedade): vai ser muito difícil algum outro grande Clube, que eventualmente caia para uma divisão inferior, subir por outra via que não seja a da competição, da luta justa.
Deve ser assim também entre nós cidadãos: quem fracassar ou errar deve pagar pelo seu fracasso ou pelo seu erro, sem complacência ou benefícios, mas com o direito de ser valorizado quando voltar ao seu espaço.
Do insucesso pode nascer uma grade vitória: assim nos mostraram Palmeiras e Botafogo!
(*) É Capitão da Polícia Militar,Coordenador do Projeto de Implantação da Guarda Municipal e colaborador do J.A.
(e-mail: hgfigueiredo@horizon.com.br)