Não gosto de cartão de crédito. Meus pagamentos, gosto de fazê-los a dinheiro ou com cheques meus.
Há duas contas bancárias que uso e mantenho por causa de minha aposentadoria. Numa delas, está escrito: "conta aberta em maio de 1961" e na outra "conta aberta em agosto de 1962". Em geral, as pessoas babam quando vêem essas datas, porque uma conta tem 41 anos e a outra 40.
Na semana passada, dia 9, através dos jornais locais, o ilustre Diretor do CODECON, Washington Coutinho Pereira, teceu comentários sob o seguinte título: "Recusar cheques de contas abertas há menos de um ano é ilegal".
Eu também sempre achei isto e também me rebelo quando vejo as balconistas pedirem o número do telefone do comprador para escrever atrás dos cheques, como se a "Telefónica" fosse a responsável pelas nossas contas.
Em todo caso, tendo meus cheques com 41 e 40 anos de conta aberta, sempre achei que eu seria invulnerável na hora de fazer meus pagamentos. Ilusão minha ! Fui comprar um liqüidificador numa loja da Rua Dois e vejam os leitores o que me aconteceu:
Enquanto colocavam minha compra numa sacola grande, dei um cheque meu de 1961 à moça do caixa. Ela carimbou "pago" na nota e entregou meu cheque à moça dos pacotes, a qual pegou um carimbo quadrado grande e bateu atrás do cheque, perguntando meu endereço completo, inclusive CEP. Aí pediu o telefone, depois o RG, depois o CPF, apesar de tais números estarem impressos no cheque. Dei todas essas informações apenas para ver até onde a coisa iria chegar. A próxima pergunta da moça foi minha data de nascimento. Eu nunca escondi minha idade, mas achei o cúmulo dar minha data de nascimento para comprar uma b. de um liqüidificador.
Num gesto rápido, tirei minha folha de cheque da mão da moça, empurrei a sacola com o liqüidificador prá ela, falei "boa tarde" a todas e fui saindo sorridente como se nada tivesse acontecido… Acabei comprando o liqüidificador em outra loja, onde a moça do caixa curtiu a data de meu cheque e chamou a patota toda para ver que a conta estava aberta desde 1961.
Minha conta de 40 anos é do Banco Sudaméris, onde os funcionários são meus amigos e sempre cordiais, inclusive os seguranças da porta giratória. Em agosto, escrevi uma carta aos gerentes do referido Banco, agradecendo pelos 40 anos de cordialidade a mim dispensadas pelos funcionários. O resultado foi que, na Edição nº 186 da "Revista SUDAMÉRIS", que acabou de sair, foi publicada uma referência à carta que escrevi e ao enorme tempo em que venho mantenho minha conta com eles.
Essa referência publicada na "Revista SUDAMÉRIS" está na estampa ao lado, cujos dizeres já fazem parte de meus guardados. Agora vejam os leitores que ótima coincidência: a reportagem que vem logo abaixo da minha na revista está intitulada "SORTE", escrita em vermelho, que é a cor da Advocacia. Não posso passar batido numa coisa destas!
Como disse lá no começo deste escrito, jamais gostei de cartão de crédito. Prefiro pagar minhas contas com dinheiro ou com uma folha de cheque. Quando estou em outra cidade, aí a coisa complica porque os vendedores nem olham para a data da conta bancária. Eles se preocupam mais com os forasteiros e, na hipótese de aceitarem o cheque, eles querem o número do RG e do telefone, como se isto lhes adiantassem alguma coisa, porque nenhum deles pede prá gente mostrar nossa carteira de identidade a fim de conferir nossa foto. Sendo assim, se a gente inventar um nº de RG e um nº de telefone, estará tudo bem prá eles.
Havendo muitos vendedores chatos, o cartão de crédito é a melhor solução, embora, curiosamente, jamais vi algum deles conferindo a assinatura. Através do cartão, eles se sentem tão seguros, que até nos atendem melhor. Coisas dos tempos modernos !
Há aqui em Araraquara um restaurante onde a Cilene e eu já estivemos várias vezes e sempre pagamos com cheque ou dinheiro, conforme nosso costume que já expliquei aqui.
Na semana da eleição, nós fomos jantar lá e eu cismei de pagar a conta com o cartão. O dono do restaurante estranhou o lance e reclamou: "Ôôôô, doutoooor, até o senhor vai pagar com cartãããão?" Eu senti que era brincadeira, mas confesso que fiquei meio envergonhado.
Nessa hora, achei um jeito de retribuir à altura, com alguma brincadeira que me pusesse em situação de vantagem. Dei uma pensada rápida e falei pro dono do botéco: "Sabe o que é? Fui sorteado nesta semana no sistema CARTÃO 120; você já ouviu falar nisto?"
Ele me respondeu que não e então eu expliquei prá ele: "Trata-se de um sistema que a firma do cartão está concedendo a alguns usuários especiais, dando um prazo especial de 120 dias para que eu pague a conta…"
Ele se assustou um pouco e eu completei: "Por exemplo, hoje é dia 3 de outubro e você irá receber normalmente no prazo comum do cartão, só que prá mim, ao invés de pagar a conta no vencimento normal meu, que seria dia 10 de novembro, o cartão somente me vai cobrar 120 dias depois, que será então dia 10 de fevereiro de 2003 e sem juros!"
Nesta semana nós fomos lá de novo. Na hora de pagar, o dono do restaurante me disse que a mulher dele está babando de vontade de ter também um cartão 120 igual ao meu prá derriçar as prateleiras das lojas da Rua Dois inteirinha…
O cartão 120 foi realmente um sucesso! Acho que vou patentear a idéia!