Andrea Ladislau (*)
Padre Fábio de Melo prega a paz, o amor e a fé. Sentimentos e emoções inerentes ao ser humano. E chega a ser uma ironia e uma grande tristeza, percebermos que, novamente, a depressão está se manifestando. Há algum tempo, o religioso vem lutando com a doença.
Hora é controlada, através dos tratamentos psicológicos, hora ela vem com total força, que tira a vontade de viver. Em uma declaração emocionante, o padre revelou aos fãs que possui pensamentos intrusivos que estimulam o desejo de se entregar e não mais seguir em frente.
Assim como Padre Fábio, muitas pessoas convivem com a depressão sem saber ao certo o que se passa. Outros não falam sobre o que sentem por medo dos julgamentos, pois ainda enfrentamos o tabu relacionado às doenças psíquicas.
Segundo a psicanalista Andrea Ladislau, confundir os sinais e sintomas, faz parte de uma sociedade que ainda se esquiva da busca pelo autoconhecimento, capaz de desmistificar a doença e favorecer uma vida mais equilibrada e saudável. Mas como saber se o desânimo ou a falta de vontade é uma depressão?
“A intensidade e frequência da estagnação e falta de ânimo, são os fatores principais para identificar que algo está errado. Essa sensação de apatia de forma contínua, por um longo período, sem qualquer motivo aparente, não é normal”, alerta a especialista.
Segundo Andrea, que também é neuropsicóloga, biologicamente falando, a falta de dopamina, um neurotransmissor ligado à sensação de prazer, pode estar em baixa produção no organismo.
“A sensação de que tudo parece monótono e exaustivo, pode levar à necessidade de isolamento, uma falta de alegria, excesso de pensamentos negativos, vontade de permanecer na cama e um constante desalento. Ou seja, tudo se torna um grande desafio. O indivíduo se sente um eterno fatigado e sonolento, com um cansaço que persiste mesmo após longas horas de sono”, explica.
Andrea enumera os principais sinais, como:
1 – Sentir-se culpado por estar desanimado, enquanto os outros parecem normais.
2 – Mal levantou da cama e já quer voltar para ela.
3 – Começa a descuidar da sua aparência ou não se importar mais com a alimentação adequada.
4 – O bom humor das pessoas parece não fazer sentido e pode causar até irritação.
5 – Tem vontade de abandonar objetivos que antes eram motivo de alegria.
6 – Perde rapidamente o foco e a concentração, o que traz um sentimento de inutilidade.
7 – Sente cansaço físico e psicológico a ponto de se questionar se não está doente de outra coisa.
8 – Tem visto ou se comunicado cada vez menos com pessoas que foram sempre importantes na sua vida.
9 – Se for confrontado com qualquer problema que precisa resolver, começa a pensar que gostaria “de sumir”, para não ter que lidar com tal situação.
Andrea frisa que a depressão é tratável e sem auxílio psicológico e psiquiátrico, fica mais difícil encarar todos esses sintomas.
“A declaração emocionada e preocupante do Padre, vem de encontro à urgência na busca por, através da aceitação de nossos altos e baixos, encontrar ferramentas para reconstruir o equilíbrio e evitar ideações suicidas, provocadas pela depressão”, diz.
Para a psicanalista, a coragem de Fabio de Melo em expor esse drama é louvável e fundamental para entender que ela pode atingir qualquer pessoa.
“Ter depressão não é estar tristinho, é estar doente. Cuidar da mente e do corpo, reflete uma boa saúde mental. Depressão é coisa séria e se não tratada pode levar a consequências irreversíveis. Por isso é importante, prestar atenção em como reagimos às nossas necessidades e emoções, fingir que elas não estão ali só vai deixá-las mais intensas e provocar o adoecimento físico e emocional”, finaliza.
(*) É doutora em Psicanálise Contemporânea, Neuropsicóloga. Graduada em Letras – Português/ Inglês, Pós graduada em Psicopedagogia e Inclusão Digital, Administração de Empresas Administração Hospitalar. É palestrante, membro da Academia Fluminense de Letras e escreve para diversos veículos. Na pandemia, criou no Whatsapp o grupo Reflexões Positivas, para apoio emocional de pessoas do Brasil inteiro.
Contatos: Instagram: @dra.andrealadislau
