Antonio Delfim Netto (*)
Tenho defendido todos esses meses a prudência com que o Banco Central tem conduzido a política monetária, a cautela que o levou a aumentar duas vezes no início do atual governo a taxa de juro básica, mostrando que não hesitou em fazer as coisas que precisavam ser feitas. Vivíamos uma situação de grande intranqüilidade, diante das expectativas de alta da inflação e das dúvidas quanto à capacidade do governo Lula administrar corretamente a moeda e de lidar com os problemas do alto endividamento externo herdados do governo FHC. Justificou-se portanto a política conservadora do Banco Central porque era necessário que houvesse uma clara tendência de redução da inflação e de recuperação da credibilidade externa para que se pudesse mexer nos juros.
Menos de 150 dias de exercício dessa política, já é visível que tais condições foram construídas, numa larga medida. Elas indicam que há muito pouco risco em começar o processo de redução dos juros. Infelizmente, o Banco Central não enxergou a oportunidade de explorar o êxito daquela política, como ficou demonstrado pelo resultado da reunião do COPOM da última quarta-feira (21), quando manteve a taxa básica de juro no elevadíssimo nível de 26.5%. Há sempre a possibilidade que o Conselho disponha de informações de qualidade superior para nortear as decisões, mas nos parece que ele está se deixando dominar por um excesso de conservadorismo. De qualquer forma, será preciso esperar a divulgação da ata da reunião para conhecer as razões dessa resistência.
Além da expectativa favorável e da tendência já verificada de redução das taxas de inflação, há outros fatores que recomendariam não retardar desnecessariamente a queda dos juros. O nível da atividade econômica continua caindo, o desemprego segue se ampliando e o salário real também caiu. Nos últimos três meses a taxa de juro real cresceu muito, comprimindo ainda mais o nível da atividade que já vinha muito baixo.
São compreensíveis as dificuldades do Banco Central, mas não se pode mais desperdiçar a oportunidade de mudar o jogo: o crescimento brasileiro não pode continuar dependendo de empréstimos externos, principalmente da invasão desordenada de capital vagabundo, esse capital da “morte súbita” atraído pelos altos juros que sufocam nossa economia. Se pagarmos juros menores e ele fugir, será uma grande vantagem: vamos poder produzir mais, exportar mais e construir superávits em conta corrente, acumulando reservas com nossos próprios recursos e não com empréstimos, como acontece hoje.
(*) E-mail: dep.delfimnetto@camara.gov.br