Luiz Carlos Amorim (*)
Vejo um estudo feito sobre a análise de desempenho em práticas sociais de leitura e escrita, por alunos em fase de conclusão do Ensino Médio do Centro de Educação de Jovens e Adultos e percebo a importância de se avaliar e mensurar a eficiência da educação que estamos oferecendo aos nossos estudantes, desde a idade mais tenra até a preparação para o Vestibular.E olhem que o estudo não é tão recente, mas continua atual.
A pesquisa é um estudo sério e consciente, com perguntas simples dirigidas aos estudantes, para que se possa determinar o nível de “letramento” do jovem e do adulto de uma cidade média que poderia, por amostragem, espelhar uma tendência brasileira. Vale esclarecer “nível de letramento”, conforme mencionado na pesquisa: se o estudante está apenas alfabetizado ou se ele sabe, realmente, utilizar a leitura na vida prática, decodificando e interpretando de maneira correta o que lê, sabendo comunicar-se efetivamente. A segunda opção é Letramento.
Apesar dos conteúdos programáticos das escolas privilegiarem um equilíbrio pelo menos teórico do ensino da língua com a prática da escrita e da leitura, a pesquisa mostra que os estudantes, um índice significativo deles, já no nível médio, ainda têm dificuldades com interpretação de textos e, paralelamente, com o registro de ideias.
Parte dos alunos entrevistados da mostra aleatória declararam ler livros, revistas e jornais, mas as respostas se conflitaram, pairando dúvidas sobre se realmente liam o que foi afirmado. Cai em evidência, mais uma vez, aquilo que suspeitamos cada vez que falamos de leitura: a escola, de um ponto de vista global, não está incentivando a formação de leitores. Falamos já em outras oportunidades, da prática contraproducente de obrigar os alunos a lerem determinados livros, por parte de professores de língua e literatura, o que causa prevenção ao invés de propiciar a criação do hábito e gosto pela leitura.
E a pesquisa nos mostra que não é só isso. Os estudantes não sabem ler documentos simples, presentes no cotidiano de pessoas comuns, como formulários, mensagens, avisos, etc. Outro fato importante levantado pela pesquisa, que corrobora o que se constatou a respeito da falta de habilidade de leitura dos alunos, incompatível com suas idades, é que a escola privilegia o ensino da escrita, relegando a leitura a segundo plano.
A escola precisa ensinar o aluno a ler e precisa incentivá-lo a se “tornar-se um leitor competente e autônomo dos vários gêneros de discurso, do cotidiano ou não, que fazem parte da cultura letrada contemporânea”. Assim, os leitores em formação, incentivados desde o início do primeiro grau, tornar-se-ão leitores efetivos. A escola precisa trabalhar o letramento do estudante com mais efetividade, para que tenhamos mais leitores eficientes e verdadeiros e que dominem uma escrita mais clara, objetiva e correta. E quando digo “escola”, quero dizer que os mantenedores da escola precisam pagar melhor os professores, para que eles sejam melhor qualificados e tenham motivação para fazer um bom trabalho. Sem o que, infelizmente, não teremos professores melhores e mais competentes, como alguns abnegados que, apesar de tudo, conseguem se dedicar além de suas atribuições, pelo que ganham e pelo que são qualificados, para incutir nos seus alunos o hábito de ler e assim conseguirem interpretar e ler o mundo.
(*) É Escritor, editor e revisor, cadeira 19 na Academia SulBrasileira de Letras, Fundador e presidente do Grupo Literário A ILHA, com 44 anos de trajetória. Http://luizcarlosamorim.blogspot.com.br
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