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É o fim do caminho

Antônio Delfim Netto(*)

A recente decisão do governo De La Rua limitando em 1 mil pesos (ou dólares) mensais os saques bancários vai ainda mais o sofrimento dos argentinos, sem contribuir para a solução do problema crucial, que é a falência de seu sistema cambial. Acredito que isso vai apenas alterar a velocidade do desenlace, que já entrou na contagem regressiva. A medida foi adotada numa situação de desespero, diante da ameaça de uma daquelas chamadas “crises gêmeas” que são a convergência mortal de uma crise monetária com a crise cambial. A limitação dos saques se destinou a salvar o sistema bancário. É um castigo extraordinário para uma população que sofre as dores de uma recessão que dura quarenta meses. A crueldade dessa situação é que nem mais existe um sistema bancário argentino, mas simplesmente um sistema bancário na Argentina, sob controle externo.

O desenlace mostra, mais uma vez, que desarranjo fiscal, com câmbio fixo, é a receita certa para a tragédia. O desarranjo fiscal vem de longe e se agravou na fase final do governo Menem. O sistema de câmbio fixo funcionou enquanto existiu crédito externo. Quer dizer, enquanto havia gente no exterior financiando o consumo argentino. Os 140 bilhões de dólares da dívida externa argentina que sustentaram os 10 anos de regime do “currency board”, representam o consumo que os argentinos usufruíram acima do que produziram. Mas os recursos se esgotaram e até mesmo os organismos internacionais lhes voltaram as costas. O Brasil também se endividou durante 4 anos com a sua âncora cambial e acumulou 200 bilhões de dólares de déficit em conta corrente. Só não acompanhamos o destino da Argentina porque em janeiro de 1999 o real foi desvalorizado e adotamos o regime de flutuação cambial. Foi a flutuação cambial que permitiu eliminar os saldos negativos da balança comercial, aliviando a pressão sobre o balanço de pagamentos.

A Argentina vai ter que enfrentar o seu problema, deixando a moeda flutuar . De nada adianta ficar adiando o desenlace, tentando sustentar uma paridade e uma conversibilidade que não mais existem de fato. Estão circulando na Argentina catorze moedas (pesos, patacones, evitas e mais onze…), emitidas pelas províncias e até por municípios! É um desarranjo completo. E não se pode falar em conversibilidade quando se estabelecem limites para a posse da moeda. De outro lado, imaginar que a dolarização vai resolver o problema é uma grande ilusão. Não existe exemplo de um país com a economia da dimensão da Argentina que tenha dolarizado ou trocado sua moeda por outra, de um terceiro país.

Esse jogo terminou, o que não significa que a Argentina vai afundar. O que é preciso é abandonar a crença idiota que o país termina, se fizer a desvalorização. Pelo contrário, é o início da solução do problema. Feito o movimento, é certo que a comunidade internacional vai ajudar a Argentina a reerguer sua economia.

(*) E-mail: dep.delfimnetto@uol.com.br

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