Ivan Roberto Peroni (*)
Exatamente agora, quando o comércio prepara-se para abrir a noite, qualquer um sente a falta dele, vai sentir a falta dele. Eu me lembro e aqueles que tiveram uma convivência próxima com ele também se lembram do seu jeito alegre, divertido, uma mistura do bom turco como nós o chamávamos, com o sotaque italiano exportado do Bexiga, lá de São Paulo. O Miguel da Staroup, êta camarada bom.
Bom, não porque morreu… porque o ser humano diz que era bom, reconhece o valor do outro só depois que morreu. Os seres humanos são assim com homenagens, só depois da morte. Nome de rua, avenida, praça, alameda, quantos pontilhões não vejo por aí, nesta minha cidade, até rotatória já leva nome de gente, contorno viário, viaduto. Político não perde a oportunidade. Por isso mesmo é que o Miguel sempre dizia – se quiserem me homenagear que o façam enquanto eu estiver vivo. Mas, não deu tempo.
Foi num dezembro como esse, de muita chuva que o Miguel Mansur, o Miguel da Staroup, Miguel marido da Dirce, se foi. Trabalhara quase o mês todo. Situação difícil como tantas outras e de tantos outros, mas que o Miguel sempre saíra com dignidade dos momentos complicados porque era realmente um cara bom… e os bons partem mais cedo.
Naquele ano as coisas não foram tão boas, mas prá quem levava a vida sorrindo e fazendo o bem, o ano fora fantástico, magnífico. O ano que vem será melhor, dizia ele prá Dirce, prá Bia, prá Rose, fiéis companheiras de trabalho, que hoje nem sei por onde andam. A Staroup era famosa nas mãos do Miguel, os jovens aconteciam por lá. Confecções que saltavam diante dos nossos olhos e nas mãos de um bom vendedor. A Staroup era o ponto alto da rua dois e no fundo a gente não sabia quem se destacava mais. Se era a Staroup que estava para o Miguel e a Dirce, ou se a Dirce e o Miguel é que estavam para a Staroup.
Um bom papo e o Miguel já estava ali, vendendo, amenizando as dificuldades, ajudando as pessoas. Ah! esses meus sobrinhos, dizia ele. Ajudar era com ele mesmo. Não se importava se faria falta lá na frente. Ele queria ajudar ali naquele momento. Diversão? Pouca. Gostava mesmo era de acompanhar os jóqueis em corridas de cavalo. Sua única alegria. Nenhum tipo de vício! Uma coisa que a Dirce as vezes até o entusiasmava. Só que agora, quando chega dezembro, a gente olha e não vê mais a Staroup onde era e como era. Sem Miguel, sem Dirce. A gente sente apenas a falta deles.
Do Miguel dizendo: “se grandes problemas assinalam a sua vida não desconsidere em nenhum momento, mesmo que por infantilidade, o sofrimento dos outros. Quando você não puder auxiliar, não puder ajudar, ofereça o apoio do coração, pois, já que você não está podendo cultivar o bem que gostaria pelo menos não plante o mal”. É Miguel, se a gente pudesse voltar no tempo, naqueles dezembros, luzes acesas, colorido lindo do natal anunciando a graça, a misericórdia… o Papai Noel que o Joel Aranha inventou andando pela 9 de Julho (cá entre nós, não tinha, não levava jeito de Papai Noel) você entusiasmado, vendendo adoidado, incentivando até o concorrente que ficava quase ali em frente, a Jota Cardozo.
Agora, fico sabendo Miguel que a Dirce não está bem de saúde… mas ela vai melhorar, tenho certeza disso, porque numa hora dessas toda dificuldade é importante; qualquer dor acaba se revestindo de significação e precisamos logicamente compreender essa dor, o tamanho dela, pois aí também vamos sentir o tamanho da dor que o nosso semelhante está sentindo…
Mas, Miguel já que você também está aí, vê se me entende: mesmo que seja prá aquele companheiro tresmalhado ou perdido, endereça as suas melhores palavras de paz e amor porque talvez seja esse, que pelas experiências sofridas, vai nos abençoar um dia e vai nos auxiliar… é dezembro mesmo, faça essa caridade porque natal é isso… ou pelo menos gostaríamos que assim fosse…
(*) É diretor da Brasil FM por cujas ondas este comentário foi transmitido.