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Nhô Pedro

“Nhô Pedro que fazes aí tão sozinho como se estivesse perdido no tempo e voando nos pensamentos, indiferente a tudo o que se passa em sua volta?”

Quando notamos uma pessoa nesse estado, pensando como se estivesse falando sozinho e desprendido da realidade, ela está curtindo suas tristezas e desafetos ou está curtindo seus sonhos e amores possíveis e impossíveis…

Eu aqui estou curtindo a minha dor, mais do que se possa suportar: dói de manhã, de dia, de noite e só passa quando se está dormindo, num sonho. É uma simples ferida no calcanhar que não cicatriza e dói todos os movimentos do pé. Quando se anda ou quando se senta reflete na tal ferida e dói e dói e dói… Médicos, consultei vários deles; farmacêuticos também e a resposta é só uma: ferida de diabetes dói e é muito difícil de ser curada, só com sorte ou benzimento. Todos os remédios que me deram eu comprei e usei, faz já quatro meses. O médico acha que ela está melhor, eu acho que está pior. Curativos em farmácias faço todos os dias e ouço tudo a respeito das tais feridas. Então meus amigos eu estou aqui curtindo o céu, o tempo, as minhas árvores frutíferas e a minha dor. Chego a falar com ela, reclamo e tomo todos os comprimidos que me indicam para combater a dor e nada. Ela continua com a mesma intensidade: é constante, duradoura, ardida, atrevida e desinibida, pois, nem sequer me pede para começar e nem é preciso fazer nada para que isso aconteça. Ela não tem hora e nem tempo, só faz doer… doer e mais doer. Maldita ferida de diabetes, apesar de a minha estar supercontrolada por medicamentos eficientes. Mas, ela continua a doer.

A gente manca porque não pode pisar direito, a gente tem ínguas, a gente fica de pé inchado, não pode usar sapatos nem meias e lava-se a tal ferida com sabão porque sabonete faz mal. Agora eu aprendi a curtir a minha dor e vou acostumando com ela. A gente levanta o pé um pouco para melhorar a circulação e vai curtindo até o infinito.

Quando ela acabar eu, com certeza, vou sentir saudade pois é tão constante que vai fazer falta o dia em que ela me deixar. É daí, o que eu vou curtir agora? Amores, só passados. Paixões, nem em imaginação. Esperança do que, com esta idade? Sonhos eu já os tive em excesso, ilusões também, desespero já nada me diz. É só mesmo a minha dor que na realidade é só minha. Claro que outras pessoas poderão ter uma dor, mas, certamente será diferente da minha.

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