Era uma borboleta, tinha os olhos azuis da cor do céu, doces como mel. Tinha asas amarelas da cor do ouro que cintilavam no espaço quando voava. Era na realidade a mais linda das borboletas, delicada, dedicada, prestimosa e inteligente mas nasceu pra ser gente e não borboleta. Teve filhos e os criou da melhor maneira possível entregando-os a quem saberia educá-los e, enquanto isso, borboleteava na imensidão do espaço. Da extensa família sempre foi a mais solicitada, todos lhe consultavam para qualquer coisa que deviam fazer e sempre dava certo pois ela era superprendada.
Adorava voar e aparecer e ajudar quem nem sequer precisasse da sua ajuda e se sentia realizada. Levou muita pancada, teve muitos dissabores mas borboleteava. Nasceu pra viver sozinha, sem ter ninguém que a mandasse. Queria a liberdade acima de tudo, gostava de ver gente, conversar e trocar fofocas. Ela ficava horas e horas perdida na imensidão de bobagens. Era a rainha da limpeza, doente por estar tudo limpo a sua volta e se arrebentava por essa qualidade. Devia ter algum parentesco com mariposas porque gostava da luz e das madrugadas. Não tinha hora pra dormir nem pra levantar. A sua volta tomava conta de tudo, por mais insignificante que fosse. Enquanto não visse tudo a seu gosto, aqueles olhos azuis ficavam mais azuis e até pareciam que mudavam da bondade para a maldade total. Guardava tudo em sua cabeça e ai daquele que fizesse algo que ela não gostasse: ficava marcado e na primeira oportunidade ela com certeza descontaria com juros e correção monetária. Amava suas amigas mais que qualquer outra pessoa, além do seu companheiro e dos filhos. Vocês já viram borboletas avós, ela era a mais perfeita das avós e morreria por um dos seus netos ou netas. O resto era resto e pouco lhe dizia. Gostava de grandes caminhadas, voando sempre em busca do nada pois onde ia nada havia que lhe interessasse. Era só voar e aparecer. Conhecia todos os lugares, tinha uma sensibilidade inigualável.
Certa vez uma mãe de santo disse textualmente que ela nasceu para o santo e tudo que fizesse fora daquilo nunca iria dar certo e ela voava e voava e voava… o seu mundo parecia infinito pois nunca chegava ao fim. A linda borboleta iria nascer e morrer voando por todos os lugares em busca daquilo que não existia, só na sua mente de borboleta.