Dizem as antigas línguas que quando um nego apita, deve estar nos 130 anos de vivência. Assim era Nhô Pedro: forte, graúdo, bem preto, esperto, até parecia um homem dos seus 30 anos, em vez de 130. Era amigo de todo o mundo e nunca se negava a fazer um favor pra ninguém. O homem era pedreiro, carpinteiro, eletricista, bom de foice, excelente de enxada, acho que não tinha um serviço que ele não fizesse muito bem feito. Era caçador extremo, armador de arapuca e outras cevas, excelente pescador de rede, de tarrafa, de vara e de covos. Sempre tinha um belo peixe, para ser trazido do Mogi quando ele trabalhava lá: nhambus, jacus, pombas do ar e do mato, carne de catetu, de capivara e lebres das mais variadas. Tatus, pacas e cotias, o homem era um artista na caça destes animais, até carne de macaco ele tinha quando queria. Domador de cavalos e de bois tinha um carinho todo especial com as vacas. Parece que nas suas mãos elas davam até mais leite. Criador de galinhas, de várias raças, desde as índias até as gigantes. Porcos ele tinha lá, os nossos e os seus muito bem tratados e sempre um capadete ou uma leitoa, para gente comer. Andava de canoa naquele Mogi como se fora um rei, com a maior perícia em rio cheio ou vazio e nas lagoas de cercania. Conhecia cada ponto de peixes ou de enroscos e andava como um mestre que era. Contador de histórias, as mais variadas e bonitas, parece até que ele vivera na tal história. Foi ele que me mostrou, pela primeira vez, um roubo de milho pelos macacos. Entramos com a canoa em baixo de uma grande árvore, à beira da lagoa, me pareceu ser um enorme jatobá. Quando ninguém pescava, eu saia com ele e cansávamos de pegar peixes, pelos locais que só ele conhecia. Eu não usava armas, mas, ficava feliz ajudando ele tirar seus pássaros e seus bichos das armadilhas. A noite era a hora de suas histórias, as mais escabrosas: de lobisomens, de mulas sem cabeça às de fantasmas em geral. Tocava viola e passávamos horas ouvindo suas músicas caipiras, algumas até inventadas por ele.
Tinha todas as qualidades que um dono de um grande pesqueiro poderia querer: cuidava de casas, do rancho, do chiqueiro, do curral e também do pequeno pomar que lá existia, com aquele carinho que só ele tinha. De todas as qualidades que ele tinha uma, como criança, eu nem notava. Mas, o Nhô Pedro tinha em sua casa duas meninas (uma com 16 anos e outra com 18) que dormiam na mesma cama dele e o amavam.
Só mais tarde eu vim a descobrir que eram suas amantes. Nhô Pedro… mulherengo danado!