Caminho do Ouro, continuação da Av. São Paulo, do largo São Benedito à Estação do Ouro, era um estradão de poeira e pó baichadão. Quando se ia, da cidade pra lá, em busca das fazendas era um subidão onde até defuntos paravam. No rio eram banhados para perderem um pouco de peso e levavam uma surra de galhos de pinhão. Planta muito comum na época para se fazer cercas. Poucas casas durante o trajeto. Famílias antigas e chácaras que hoje seriam sítios de tão grandes. Nelas havia de tudo, com exceção do sal e açúcar, que compravam nos armazéns da cidade. Em frente a capela Nossa Senhora Aparecida, construída por uma viúva, ficava o Último Gole, um barzinho de meu pai. No bar tinha: pinga, cerveja, conhaque, linquiça, amendoim, pão e umas bujigangas mais. O Último Gole era a personificação da miséria, onde as mulheres de vida fácil, que já não frequentavam as zonas por serem velhas ou outro motivo qualquer, cultuavam a espera dos que moravam nas fazendas e paravam à sua volta. Elas tomavam pinga e cerveja com eles, e antes da volta para suas casas, levavam os cablocos pros matos dos arredores e tiravam os últimos tostões de suas carteiras. A molecada se divertia, iam atrás deles e até jogavam algumas pedrinhas, no casal que estava fazendo amor, despedindo-se da cidade. O Último Gole era frequentado por antigos bandidos: Zé Botinha, o mais mentiroso da cidade, Damião o rei do batuque e da umbigada, pessoas das fazendas, pelos catadores de algodão e pelo resto da miséira da cidade ou da Vila. Lá havia briga de bêbados, às vezes chegando até a morte. No grande quintal do Último Gole, havia um salão feito de encerado onde se realizavam bailes com sanfona e pandeiro a noite tota. Super frequentado por dançarimos, serviam: bebidas, pastéis, frangos assados pela minha mãe que trabalhava como louca naquela miserabilidade. Havia, também, quatro campos de bocha que era ocupado por velhos, dia e noite, que rendia uma miséria. O Último Gole ficava famoso quando se realizavam as festas de Nossa Senhora, vinha gente de todos os lados da cidade e cidades vizinhas. Além de prendas de vários tipos, havia o mercado de vacas e o pau-de-sebo que era uma grande gozação. Saímos dele do jeito que entramos ou pior ainda.