Nhô Pedro

Os desfiles da minha época eram feitos na Avenida São João, em São Paulo. A escola de Samba Camisa Verde desfilava sempre na madrugada, horário que dava mais ênfase às suas fantasias coloridas e seus destaques. Na quadra, o samba começava às oito horas e ia até à madrugada. Na escola, brincava-se, bebia-se e comia-se de tudo. Essa labuta demorava, no mínimo, de dois a três meses. Tudo ia ficando pronto: as alegorias, carros, fantasias e tudo o que era necessário para a escola desfilar na Avenida São João. Conheci os maiores compositores das escolas do Rio e, também, um mestre-sala famoso, o Delegado que muito contribuiu para que o Camisa fosse penta-campeão do carnaval paulista. Foi no Camisa que conheci e fiquei amigo do Mussum, que me trouxe da África um jogo de búzios que tenho até hoje. Conheci o Beto, sem braço, que compôs um dos maiores sambas do Rio de Janeiro: “Bum bum paticumbum nosso samba minha gente é isso aí”. Esse estribilho famoso foi feito no meu consultório, na Vila Ipojuca, na presença do Xuxu, Mussum e mais dois integrantes dos Originais do Samba. Conheci a Maria Lata D’àgua e a velha guarda da Portela e da Mangueira. Um compositor da Portela me ajudou a montar um samba para a mulata mais bonita da Camisa Verde e Branca, que foi um sucesso total. O samba foi feito para a Helóis, ninguém era mais bonita, estilosa e vestia-se como ela. Não deixou de ser uma pequena paixão, pois todos a queriam e sobrou pra mim fazer um samba de matar. Nenhuma mulher resiste a um belo samba, principalmente sendo uma declaração de amor. Foram muitas as mulheres da escola que a gente teve contato. Eu era o único branco-compositor da escola. Era bebida, samba e mulheres. Fui uma ou duas vezes na casa do Chico Buarque, aí entendi porque tinha aquela música “Água no Feijão que chegou mais um”. O problema do samba era que o pessoal podia dormir a hora que bem quisesse, pois iria acordar tarde. Eu era um cirurgião-dentista, tinha que trabalhar o dia inteiro, das seis e meia da manhã até à noite, o que tornava a vida muito mais difícil. Mas, eu era moço e saudável, muitas vezes emendava numa boa. O samba foi pra Avenida São João, o maior sucesso. Eram milhares de assistentes cantando. E eu lá no meio da escola, queria morrer de paixão pelo que tinha feito. Não acreditava que aquilo era meu e do Xuxu.

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