Na Vila Xavier, depois de 1930, todos tinham vacas, cabras, porcos, cavalos, cachorro, galinha… a Vila era uma fazenda ao redor de Araraquara. Não existiam as casas de hoje, eram chácaras com belo pomar. Lá embaixo o cristalino Rio de Ouro onde a molecada ia pescar ou nadar. Era um mundo aberto, sem porteira. As mulheres iam buscar lenha e os meninos os frutos: gabiroba, marolo, marmelo preto e rasteiro, cajuzinho, abacaxi do mato, pepinos do campo e uma infinidade deles.
A nossa turma ajudava na coleta de lenha e tinha um curral onde montava em garrotes, era sempre uma tarde de festa. Um rodeio natural, bonito, de graça e pra valer. Afora a minha turma, eu tinha dois primos infernais. Eram valentes e prontos para toda obra, participavam de todas as brincadeiras. A gente gostava de leite e nunca perdia uma cabra, égua ou vaga. Mamávamos até encher o estômago. Um segurava o cabrito, potro ou bezerro e outro agradava e amarrava a respectiva mãe para um terceiro mamar à vontade, sem perturbação. Os animais colaboravam com a gente e nunca nos faltou leite. A escola era necessidade, tínhamos que frequentá-la e os primos – brigando sempre – conseguiram um diploma do primário. Eu era um aluno melhor porque o meu pai tomava conta dos exercícios e, se não os fizesse, lá vinha o croque na cabeça. Como tinha medo das palmadas, fazia tudo direitinho. Mesmo assim acabava esquecendo algumas lições e, de imediato, vinha a surra. “É para não se esquecer mais”, dizia.