Natal sem fome

Eladir Albertini (*)

Crianças nuas andam pelas ruas

Olhares apagados

Procuram alimentos

Mas não há o que comer

Boca seca, barriga vazia

Andar desesperançado

Da terra já não brota o verde

O rio está contaminado

Na cidade de pedra

Os famintos estão marginalizados

Não há vida sem comida

Não há maneira de sobreviver

Surge de repente um novo alento

Luzes de festa explodem no ar

É uma campanha com os alimentos

Pessoas que se lembraram de arrecadar

"Natal sem fome"

A esperança de acabar com o sofrimento

A boca se enche de água com tantos sabores

Terminam-se os dias de tormento

Não, a ilusão é de poucos momentos

É uma hora de sonho de encantamento

De fartura de comida

De alento à vida

Não se pode comer tudo

Pois há tanta variedade

Sorrisos… mãos generosas

Solidariedade…

Alegria que dura apenas um dia

Passou-se o Natal

A boca seca

Não há o que mastigar

O prato vazio…

Só um cheiro de comida no ar…

Olhar apagado

Busca restos no chão

Pequenas migalhas…

Que se agarram com as mãos

Na selva de concreto

Não há mais irmãos

E só há comida por um dia

A fome continua nas ruas

Em meio a riqueza dos prédios

Crianças de barrigas vazias e nuas

(*) É Pedagoga e colaboradora do JA

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