Antonio Delfim Netto (*)
Fim de governo, final de ano, clima de festas, o espírito do Natal recomenda, mais do que nunca, relativizar a crítica. Comecemos, então, pelo que de bom aconteceu neste ano da graça de 2002 e um pouco mais atrás, nos oito anos de administração do Presidente Fernando Henrique Cardoso.
Na economia, o dado mais positivo foi a manutenção de uma relativa estabilidade de preços durante os dois mandatos, o que faz um contraste poderoso com o descontrole inflacionário que o país viveu na década anterior. Apesar do alto custo em termos de crescimento econômico e de sustentação dos níveis de emprego, o combate à inflação foi feito de forma eficiente e atingiu o objetivo. Em 2002, pela segunda vez, a meta inflacionária foi superada, o que obscurece um pouco os resultados dos anos anteriores, mas não é algo irrecuperável.
Na política, o fato notável é que alcançamos um estado avançado de consolidação das instituições democráticas, culminando com a eleição do candidato do maior Partido oposicionista e, na seqüência, a organização da transição do Poder de forma altamente civilizada. Não é coisa trivial, à luz de nossa experiência republicana e da tradição latino-americana no espaço que nos cerca. Neste particular, a história fará justiça à atuação do atual Presidente, à sua capacidade de conciliação e ao seu espírito de moderação. Certamente não deixará de avaliar criticamente o seu papel no episódio da reeleição e das negociações nebulosas que precederam a votação parlamentar.
O mais importante, porém, é que a transição do Poder se realiza em clima de ordem e respeito, sem qualquer dúvida quanto à expressão da vontade popular com a sua leitura.
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