Maria Ursulina Ramalho (*)
Que tragédia caiu sobre você, tão pequeno, tão frágil, quanta perversidade.
Quantos Bernardos estão pelo Brasil e pelo mundo, em sua vastidão profunda, igualmente desamparados para sempre?
Mãos assassinas tiraram sua vida, com tantos sonhos ainda a realizar.
Durante sua curta permanência em um ambiente iníquo, foi agredido física e psicologicamente, negligenciado pelo próprio pai e familiares.
Menino inteligente e sensível, sofrendo em silêncio, procurou ajuda e não conseguiu.
Uma criança, de apenas 11 anos, enfrentou violências até o momento de encarar seres diabólicos, travestidos de humanos, que covardemente tiraram-lhe a vida.
Bernardo, seu trágico destino representa um sinal vermelho para que percebamos e procuremos uma solução contra aqueles que estão nos conduzindo a todo tipo de mal. Mas como?
De modo geral, estamos construindo um mundo feroz, caracterizado pelo materialismo nas relações pessoais e institucionais.
A criança é a alma, a essência da vida. Mas não é assim que pensam aqueles que desejam apenas o consumo imediato de bens e valores, sendo que a criança, nesta perspectiva, não representa valor como ser humano igual aos adultos que a olham.
Quando querida ou "planejada", a criança passa a ser um item de desejo dos adultos, como um carro, apartamento, um brinquedo para crianças adultas, enfim.
Quando não presente em um momento favorável, passa a ser vista como um obstáculo para o conforto dos adultos que não a querem, ou não a "planejaram" (como gostam de dizer hoje em dia).
Bernardo, querida criança, hoje o seu sacrifício nos alerta para o crescente egoísmo e hedonismo exacerbado.
Perdoe-nos, Bernardo, pelo mundo que encontrou, onde pessoas precisam "planejar" amar e respeitar umas às outras.
Com certeza deve estar com anjos, pois cumpriu uma dolorosa missão, e merece descansar em paz.
(*) É escritora e pedagoga.