Marísia mostra o valor da sensibilidade

A escolhida de Sarah Coelho para entrevista na coluna “Gente” é Marísia Edméia de Carvalho Barros que se apresenta, com luminosa transparência e beleza em suas respostas alicerçadas em valores da alma.

JA – Você é filha de escritor?

Marísia – Papai, Antônio Pereira de Carvalho, escrevia poemas e foi articulista. Participou de jornais da cidade com seus artigos e suas poesias. Isso já faz algum tempo.

Sua influência a beneficiou?

Muito. Pela minha sensibilidade à palavra escrita. Sou sentimental e desde a infância acolho no coração o que leio. Lembro-me da papai lendo muito, como também meus familiares. Assim, comecei, já na vida escolar, a sentir o gosto pela leitura e também vontade de crescer. Acredito que herdei seus dons também.

O que mais a inspira a escrever?

Os momentos. Escrevo quando observo pessoas, situações, a natureza. Sou tocada profundamente… sinto forte o momento. As palavras fluem como um presente inesperado. Então recebo-o no coração, na mente, com a minha mais profunda sensibilidade. Algumas vezes, emociono-me. A inspiração toca-me de maneira inexplicável.

Documenta tudo o que escreve?

Se guardar é documentar, há dé;;cadas guardo meus poemas. Nunca pensei em divulgá-los, mas aprendi que quando recebemos um dom, devemos reparti-lo. Então, devagar, estou saindo de minha intimidade. Também porque recebi carinhosos empurrões de pessoas inteligentes, maravilhosas, como a capacitada professora e jornalista Teresinha Bellote Chaman, minha orientadora em literatura e agora você, com sua delicada e experiente entrevista. Cito também, sociólogo e professor araraquarense, Luiz Flávio de Carvalho Costa, que reside no Rio de Janeiro e que está preparando um livro com meus poemas. Dessa forma, estou documentando tudo o que escrevo.

Em 2002, na época da primavera, recebi flores especiais quando o escritor e professor do Departamento de Letras da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Deonísio da Silva, com um gesto pródigo, falou de minha poesia “Primavera de Beatriz” em sua coluna no jornal Primeira Página de São Carlos e no portal EPTV.com., em um artigo intitulado Aqueles que nos lêem. Foi um momento importante para mim. Maravilhoso, Agradeço publicamente, nesta oportunidade, suas palavras carinhosas, à minha pessoa e a meu poema.

Tem costume de jogar fora o que não lhe agrada?

Não. Penso muito e mesmo o que não me agrada tem valor para mim, faz parte de minha história de vida. Emociono-me e torno a guardar. Sempre deixam uma mensagem que muitas vezes não entendemos no momento. Um dia, quem sabe, fará sentido.

Defina um poeta

Alguém de fina sensibilidade e que escuta a natureza, percebe a vida e sabe passar para o papel essa sensibilidade. Mas minha definição é pequena. Transcrevo as palavras de *Mikel Dufrenne, que sabiamente define o poeta:

“A subjetividade do poeta, em ato através de sua sensibilidade, é inteligência, portanto, daquilo para o que a Natureza o solicita. Destarte o poeta, sem trair a si próprio, corresponde à sua vocação, assumindo o que lhe é doado, mas fecundando o dom, com espontaneidade, pela imaginação. O sentimento profundo da Natureza “naturante”, embora suscitado pelas coisas que percebemos (paisagens, cores, frescor do ar etc., isto é, a natureza “naturée”) é formado por “aquilo que, através das coisas, se nos revela”. Assim, tal sentimento poderá surgir e se for experimentado ao apreciarmos uma bela paisagem ensolarada do campo ou da cidade, como no silêncio de uma sala fechada e iluminada pela luz artificial. É o poeta que, mediante a imaginação, colhe e fecunda as imagens externas, vivificando-as, porém, humanamente, com o fundo do seu ser participando da natureza.

É através do olhar do homem que as coisas tornam-se imagens e, assim, afirmam-se como coisas.

O poético, em outros termos, encontra-se no poeta (e, por consequência, na poesia e no poema. É o poeta com sua obra, se realmente poética, que induz no leitor o estado poético”.

“A Poesia é Poética” – sustenta Dufrenne.

Qual o benefício da leitura?

A leitura, desde a infância, no traz grandes benefícios. Nossos livros de histórias (eram meus presentes preferidos, lia-os da primeira a última palavra e quando acabava, relia-os) estarão presentes em nossa imaginação vida a fora, pelo conteúdo ou por alguma “frase lapidar”, que nos deixou ensinamentos. Foi e é pelo que lemos que crescemos intelectualmente.

As crianças estão lendo mais?

As crianças que têm exemplos de pais e professores, continuam lendo. Infelizmente o número é pequeno devido à presença da televisão. As crianças recebem tudo pronto e muitas vezes de forma errada.

E nossos jovens?

Quanto aos jovens, buscam mais a leitura através do currículo escolar orientado pelos professores e supervisionado pelos pais. Mas poucos sustentam o hábito, trocam-no por diversas outras solicitações. Daí a dificuldade que têm em se expressar e redigir.

Os livros nos permitem sonhar?

Sim. Os bons autores, em seus escritos, nos permitem sonhar, imaginar, sentir. Alimentam nosso intelecto e nossa alma. Dão-nos grande experiência literária.

Em que sentido acredito que este sonho é um ótimo alimento.

No sentido de nos fazer crescer na linguagem falada, escrita, no campo emocional e na maturidade intelectual que nos direcionará aos estudos e opções profissionais. Somos alimentados e nutridos com fatos históricos, biográficos, documentários científicos, romances de ficção, poesias, crônicas, que nos deixam uma bagagem de conhecimentos.

Como educar filhos adolescentes?

Logicamente pelos exemplos virtuosos de pais, professores e familiares. Responsabilidades e respeito ao próximo, em primeiro lugar. Sem exemplos, as palavras se perdem.

Ser Mãe, Esposa e Vovó é uma arte?

Sim. Nossas apreciações, quer sejam culturais, religiosas, humanísticas, ambientais, devem passar aos filhos, netos e companheiros… o melhor do melhor. Somos responsáveis e isto requer uma dose de arte – a feminilidade – que sempre doa amor e paz.

Acredita que Deus perdoa tudo?

Deus é nosso Pai. Pai Misericordioso… Pai de grande amor…

Façamos por merecer esta infinita misericórdia: o perdão.

E os homens? Perdoam também?

Nós, homens, temos muito a aprender… caminhar… crescer…

Somos filhos imperfeitos e muitas vezes não sabemos perdoar.

Sua lição é que perdoemos “Setenta Vezes Sete”.

Fale sobre a amizade.

O mundo deveria ser todo amigo… infelizmente pensamos na amizade em pequenos grupos, simpáticos, se possível. Mas a Grande lição é “Amai-vos uns aos outros”.

Precisamos aprender Esse Amor Maior. “Amor Fraterno”. Como somos analfabetos nisso!

O perfil da mulher moderna.

Mulher moderna: dinâmica, forte, companheira, galgando altos postos, polivalente.

Mas… cansada, com pouco tempo para o lar, para os filhos, para si mesma. O ideal seria meio período de trabalho (importante é sua realização profissional) e meio período para o lar. Há uma falta da mãe, da companheira, de uma bênção feminina e isso gera um profundo mal estar pelo mundo afora.

Mensagem.

Ainda há muito tempo em nossa vida.

Tempo para converter nossos defeitos, retomar nossos projetos que estão guardados.

Tempo de ofertar nossos dons.

Tempo de amar e ser amado.

Tempo de ler, estudar, aprender.

Tempo de crescer.

* Mikel Dufrenne livro O Poético.

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