Antonio Delfim Netto(*)
Lentamente, os indicadores econômicos começam a apontar na direção de uma pequena retomada do crescimento. Ainda é uma coisa tênue, não estamos diante de nenhum espetáculo de desenvolvimento mas certamente já dá para enxergar a inversão da curva na direção correta. Os números mostram que estamos com pequenos aumentos de emprego setorial e na produção industrial. Confirmam-se aqui e ali algumas decisões de novos investimentos e a aceleração dos que vinham sendo tocados devagar; as exportações também estão respondendo e, mais significativo, as importações vão crescendo, sinal vital de retomada da atividade econômica.
É verdade que murchou um pouco aquele entusiasmo de dezembro e janeiro, por causa da interrupção do processo de queda das taxas de juros. Com a “conversão” do Banco Central em março, no entanto, os empresários voltam a dar sinais que estão dispostos a tomar um pouco mais de risco, na crença que não se abandonará outra vez a política de redução paulatina dos juros e que o crescimento vai mesmo acontecer, sem novas surpresas desagradáveis de parte do governo.
O país precisa evitar ser infectado por uma idéia lançada por alguns economistas, aqui e no exterior, segundo a qual o Brasil é um país tão especial que deve fixar um limite inferior para sua taxa de juros. Sem qualquer argumento sério defendem que nossa taxa de juro real de “equilíbrio” (seja isso lá o que for!) deve ser alta, algo entre 8% e 10% Alega-se que temos uma história de calotes e não respeitamos contratos, mas qual o país que ao longo de sua história não violou uma vez ou outra seus contratos ou que não tenha feito alguma arte com suas moedas? O descumprimento de contrato sob o imperativo irresistível da realidade é presença ubíqua na história de todos os países, ainda que com freqüência diferente.
De forma que esse não é o problema. Em toda a história do desenvolvimento brasileiro, nunca tivemos taxas de juros tão altas como as que vigoram há dez anos ou quinze anos, período em que a economia apresentou os mais baixos níveis de crescimento do século. Entre 1900 e 1980, quando o crescimento foi mais vigoroso, nossa taxa de juros real era bem mais próxima da média dos países desenvolvidos, que nos primeiros 80 anos era negativa e nos vinte anos finais do século foi positiva, 3,6%.
No mundo inteiro hoje, com exceção do Brasil, não existe nenhum país razoavelmente importante em que a taxa de juro real seja maior que 5% ou 6% ao ano. Nós podemos e devemos ter uma taxa de juro real de 4% a 5% ao ano como os demais países, sem qualquer problema maior que a gente não possa resolver.
(*)E-mail: dep.delfimnetto@camara.gov.br