A Professora Josélia Maria Costa Hernandez, licenciatura plena em Letras, Mestre em Língua Portuguesa e Lingüística e Doutorando em Educação Escolar (todas pela Unesp-Araraquara), iniciou sua atividade docente no Ensino Médio na cidade de Apiaí, Estado de São Paulo.
Trabalhou nas redes pública e particular de ensino na região de Araraquara, como professora de Ensino Fundamental e Médio.
Há sete anos é professora de Língua Portuguesa e Lingüística do Centro Universitário de Araraquara. Foi escolhida pela colaboradora Sarah Coelho como destaque. As suas respostas, objetivas e inteligentes, merecem ser conferidas.
Como se interessar pela nossa gramática?
Quando o aluno descobre que a gramática está dentro dele, ele passa a ler a língua com outros olhos.
Explique seu gosto por esta matéria tão difícil?
Há uma relação de amor entre mim e a palavra, e, como em todas as relações amorosas, os percalços são superados com o tempo. Não pense você que eu ainda não os tenha.
Expor a matéria, com humor, é a chave para alcançar êxito?
O humor é um dos instrumentos dos quais o professor dispõe para trabalhar a sua disciplina. A sátira sempre seduz, pois desenha no imaginário da pessoa a situação atípica que causou o riso. Como o professor hoje concorre com um mundo completamente imagético, lançar mão do humor em sala de aula o coloca, no mínimo, em pé de igualdade com sua maior concorrente: a televisão.
Dizem que gramática é gramática, não tem novidade…
Pelo contrário! Nós não falamos ou escrevemos uma língua morta. A língua portuguesa, nossa língua materna, está vivíssima! E por isso mesmo, está em constante evolução, com muitas novidades.
Cite um livro que a fascinou.
Água viva, de Clarice Lispector.
Quem pouco lê e muito quer escrever, tem problema?
O hábito da leitura nos leva à reflexão, ao conhecimento, ao prazer, à interação. Quem pouco lê deixa de vaguear pelos subentendidos das palavras e pode produzir textos sem originalidade, sem fascínio, correndo o grande risco de não ser lido.
Saber pouco de gramática, pode frustrar o aluno?
Montaigne já dizia: “mais vale uma cabeça bem-feita que bem cheia”.
Como resolver essa questão?
Qual o sentido de uma cabeça bem cheia? É justamente o de acumular o saber. Não adianta nada empilhar todo um conhecimento sem o devido princípio de seleção e organização de seu significado para o aprendiz. Já uma cabeça bem-feita traduz não o acúmulo do saber, mas uma habilidade ampla para dispor e resolver algum problema. Se uma atividade de exercício da língua não promover essa habilidade, estaremos apenas enchendo as cabeças de nossos alunos.
Por que as pessoas têm preguiça de ler?
Talvez não seja preguiça, mas cansaço.
O Brasil tem fama de poucos leitores.
O brasileiro lê, sim! Quem sabe não da maneira que a escola prescreve, mas ele lê. É preciso que o professor de português perceba isso, para poder ler nas entrelinhas a leitura que o aluno é capaz de fazer, não só do texto verbal como também do mundo que o rodeia.
Mensagem
Gostaria de aproveitar esse espaço para refletir sobre a possibilidade de repensar o ensino da língua portuguesa. Todos os professores estamos um pouco cansados dos lugares-comuns sobre a importância do ensino da língua materna para a educação. É importante que saibamos distinguir dos lugares-comuns aquilo que for incomum, pois certamente nele é que estará o elixir para entendermos como funciona o pensamento dos aprendizes hoje em dia. Achar que o aluno não sabe escrever ou ler porque não acentuou ou não ortografou adequadamente a palavra não nos torna maiores nem detentores do saber absoluto, do pensamento verdadeiro sobre a língua. Se a língua está em constante evolução, não seriam eles os precursores de expressões que posteriormente serão sancionadas pela norma lingüística? Se forem eles virtuais precursores, temos algumas gramáticas latentes todos os dias sentadas diante de nós… Precisamos interpretá-las, para até mesmo nos livrarmos deste estigma de que o brasileiro não sabe o português.