Humberto Gouvêa Figueiredo (*)
“Perdoar é humano, esquecer é divino” (JAMES GRAND)
Não nos damos conta de aspectos interessantes de nossas vidas, de nosso cotidiano e de nossas relações interpessoais, de tal sorte que somos meio que levados no dia a dia, sem tempo para refletir sobre as coisas que nos envolvem.
Vou escrever hoje sobre a Rua.
Os senhores e senhoras leitores que me dão a honra da apreciação deste meu modesto artigo já pararam para pensar o que é a Rua, este espaço tão importante e, ao mesmo tempo tão ignorado por todos nós?
Refiro-me à Rua, incorporando todo o conceito que a envolve como um espaço de natureza pública, ou seja, o leito carroçável, as suas guias, calçadas e praças, quando a ela contíguas.
A Rua tem sido para a sociedade moderna, infelizmente, um espaço de locomoção, de trânsito, de passagem.
Vista sob este ângulo, simplista no meu entender, a Rua serve somente para os veículos irem e virem e as pessoas transitarem. E a prioridade seguida é justamente esta, ou seja, os “reis” das RUAS são os carros, ônibus e caminhões, cuja preferência prevalece sobre todos os demais, entre eles o homem.
O ser humano, nesta lógica imbecil, vem depois das máquinas: e aquele que se atrever a pensar diferente, com poucas chances sairá ileso de um acidente de trânsito.
Creio que, na essência e teoria, não deva existir nada mais público do que o espaço da Rua. É ela (ou deve ser ela) um espaço de todo mundo, mais precisamente de todas as pessoas.
Na medida em que se prioriza a máquina em detrimento do homem na Rua, perde-se a lógica racional de que é o homem o mais importante neste processo.
Uma reflexão importante a ser feita, pois no “status quo”, em que os carros dominam as Ruas e o ser humano é relegado a um segundo plano, temos o desrespeito entre as pessoas, pois as que possuem a máquina se sentem mais “poderosas” do que as que não as têm; temos ainda o uso indevido (e egoísta) do espaço público pelos detentores das máquinas, que se sentem com direito de dirigir na velocidade e com a atenção e segurança que lhes for adequada, uma vez que, acontecido um acidente, em regra quem sofre o maior dano é quem está a pé.
Mas, superada esta etapa do “trânsito”, avancemos para um outro aspecto bastante relevante que deve ser pensado sobre a Rua.
Trata-se de uma inversão da lógica da Rua, que deve deixar de ser vista como apenas uma via de locomoção mas, mais importante do que isto, deve ser concebida como um espaço de convivência social.
Na Rua se encontram os desiguais, que neste momento não se inter-relacionam, até por conta do medo e da insegurança, mas que deveriam fazê-lo como medida que colaboraria para a diminuição da violência provocada.
Mas as pessoas precisam usar o espaço da Rua não só para ir e vir, mas também para ficar, para permanecer, para conversar, para discutir idéias, para constatar divergências.
Precisamos urgentemente agir para que as nossas Ruas tenham resgatada a sua dimensão enquanto espaço de todos.
Enquanto não for assim, este lugar que hoje se limita a nos leva de um ponto a outro, continuará sendo aquele onde vemos se ferir e morrer nossos semelhantes ou subtraído o seu patrimônio.
(*) É capitão da polícia militar, Coordenador do Projeto de Implantação da Guarda Municipal e Colaborador do J.A.