Por incrível que pareça, há pessoas que preferem tomar uma ou mais injeções do que engolir comprimidos. As primeiras injeções inventadas eram aplicadas nas coxas, mas doía muito. Na seqüência, perceberam que no braço, perto do ombro, a dor era menor, passando a ser essa região o local clássico e de rotina das injeções. Essa parte alta dos braços se denomina, em Anatomia, região deltoidiana, ou simplesmente deltóide.
No decorrer dos tempos, os laboratórios começaram a fabricar injeções indicadas para aplicação "intramuscular profunda", sendo eleita para isto a região glútea, onde há três camadas de músculos bem espessos. A implantação das injeções glúteas sofreu certa resistência das pessoas porque, nos tempos antigos, não era costumeiro estar mostrando o bumbum…
A palavra glúteo, dada ao bumbum, veio de "gloutos", do grego. Para alguns estudiosos, essa palavra grega dava a idéia da semelhança da bunda com um pão cujo fermento fez crescer, ficando redondinho…
Já que falei em bunda, essa palavra nós a recebemos da língua quimbunda. Vejam no Dicionário do Aurélio ou o do Houaiss: "Quimbunda é a língua falada na Angola, país africano". Curiosamente, a palavra bunda parece que foi tirada do próprio nome da língua que os angolanos falam…
Antigamente, a palavra bunda fazia parte do rol dos palavrões ou palavras de baixo calão. Atualmente, entre todas palavras existentes para nos referirmos às nossas bundas, essa palavra angolana acabou sendo aceita normalmente na fala, nas revistas, no rádio e na TV, com a variante bumbum, que é mais delicada e social.
Quase ninguém usa a palavra nádega, que veio do latim "nates". Existe uma palavra técnica, "natiforme", que serve para indicar todas as coisas que tem um formato semelhante ao bumbum, inclusive em Arquitetura.
Existe uma outra palavra do grego, mais ortodoxa, para dizer bunda, que é a palavra "pigeon". Em nossa língua, existe a palavra técnica "calipígio", que significa "bumbum bonito" e a palavra "pigofilia" ou "pigiofilia", para representar quem aprecia ou cultiva a beleza das bundas.
Peço aos leitores que não se escandalizem com o que vou contar agora: Em certas regiões de Portugal, eles usam normalmente a palavra "cu" para a bunda toda, enquanto aqui no Brasil essa palavrinha indica somente o ânus. Pois acreditem que um médico amigo meu foi passar uns dias lá em Portugal e a esposa dele, conhecida pela braveza dela, pegou uma gripe. O médico ligou numa farmácia de lá e pediu que viessem aplicar uma injeção de "Eucaliptina" na esposa. O jovem da farmácia, que veio atender o chamado no hotel, quase apanhou dela ao dizer o local onde a injeção seria aplicada…
Em várias partes do Brasil, usam a palavra "rabo" para se referir ao bumbum. É esquisito, mas eles acham que não é, e está nos dicionários.
Outro assunto: Bula, como todos sabemos, é aquele papel que vem dentro das caixas de remédios explicando a fórmula, as doses e os efeitos. Bula é também aquele escrito solene do Papa, a respeito das instruções religiosas, indulgências, etc. Uma coleção de bulas do Papa é um "bulário", mas a coleção de bulas de remédios é um "vade-mécum farmacêutico".
Nestes dias, eu abri um vade-mécum farmacêutico, que ganhei recentemente, para ler as referências sobre um certo remédio e topei com essa figura que estou apresentando aí à esquerda. O laboratório, no meio da bula do referido remédio, publicou uma figura para mostrar o local onde se faz uma INJEÇÃO NO BUMBUM, mas esse desenho está totalmente errado e perigoso. Eles desenharam uma cruz a partir de uma horizontal e uma vertical que passam bem na parte mais saliente do bumbum. Não é nada disto! Vejam o desenho que fiz à direita, que é o desenho certíssimo para as injeções no bumbum. O desenho do laboratório está totalmente errado!
Quem quiser aprender como se faz o desenho certo, peça a uma amiga ou amigo que lhe mostre o bumbum. Passe um risco horizontal de fora a fora, bem na altura onde começa o rego. Agora passe dois riscos verticais, um em cada lado, passando nas duas partes mais salientes do bumbum. Confiram com o desenho do laboratório e verificarão que o local certo de aplicar a injeção é bem mais prá cima do desenho feito pelo irresponsável laboratório. Em outras palavras, as injeções no bumbum não devem ser feitas na parte mais redonda ou saliente da região, mas bem acima, para evitar de atingir o nervo ciático e causar um estrago, até com paralisia da perna. Vejam o desenho que fiz abaixo do anterior, mostrando o trajeto do nervo ciático, que é o nervo mais grosso de nosso corpo, fácil, portanto, de ser atingido por uma injeção feita em local inadequado.
Espero que todos os leitores tenham entendido o desenho, para não deixar que ninguém lhes aplique uma injeção no bumbum no lugar errado e perigoso.
A propósito de INJEÇÃO NO BUMBUM, lembro-me de um cara que chegou certa vez lá no Serviço Especial de Saúde porque havia levado uma arranhada de um gato no rosto. O colega que o examinou mandou que lavassem bem o local com sabão, que fizessem um curativo e o encaminhou à Sala 6 para tomar uma injeção. No papel de encaminhamento, ele escreveu: "vacina anti-rábica", porque uma arranhada de gato pode transmitir a doença Raiva. O paciente foi prá lá e topou com uma pequena fila na porta da Sala 6. Chegando a vez dele, ele abriu o papel para entregá-lo à atendente e leu o que estava escrito: "injeção anti-RÁBICA"! Ele entregou o papel para a atendente e falou prá ela bem alto: "No meu não, bichona, injeção eu só tomo no braço!…"
