Janaina Lage
A inflação medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) recuou para 0,58% em janeiro, de acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Trata-se do menor resultado em três meses. Em dezembro, o indicador havia apurado alta de 0,86%.
O IBGE atribui a desaceleração da inflação ao preço da gasolina, que avançou apenas 0,06% em janeiro, e às tarifas de ônibus urbano, que tiveram deflação de 0,10%. Promoções de artigos de vestuário, menores aumentos nas tarifas de água e esgoto e a redução do impacto do reajuste dos cigarros também ajudaram a conter a inflação.
O IPCA do mês passado ficou também inferior à taxa registrada em janeiro de 2004.
Apesar do recuo do índice, a gerente da Coordenação de Índices de Preços, Eulina Nunes dos Santos, afirma que o resultado da inflação nos últimos 12 meses se mantém constante. O acumulado de um ano em janeiro ficou em 7,41%. “Estamos com uma taxa sustentada nos 12 meses ao redor de 6% a 7%”, disse. A manutenção deste patamar é resultado do efeito do aumento do aço e dos alimentos nos últimos dois meses, na avaliação da técnica.
O IPCA de janeiro pode ter forte influência sobre o resultado da reunião do Copom (Comitê de Política Monetária, do Banco Central) desta semana.
Os diretores do BC anunciarão na quarta-feira o novo valor da taxa básica de juros da economia brasileira (Selic). Até a semana passada o mercado esperava que o BC elevasse os juros de 18,25% para 18,75% ao ano. No entanto, com o recuo da inflação analistas e o próprio BC podem concluir que a medida seria muito drástica.
Por outro lado, também na semana passada o IBGE divulgou que a produção industrial cresceu 8,3% em 2004, o melhor resultado em 18 anos.
Por isso, o BC pode ser mesmo obrigado a aumentar os juros para esfriar a economia e evitar que o crescimento seja acompanhado de inflação.
O BC persegue neste ano uma meta de inflação ajustada de 5,1%, ainda mais apertada do que o centro da meta do ano passado, de 5,5%.
Pressões
Tradicionalmente a inflação do início do ano é afetado por fatores sazonais, como aumento dos preços de hortaliças e legumes, em razão de fatores climáticos, e reajuste de matrículas e mensalidades escolares de acordo com definições em contratos.
Em razão da metodologia, o IPCA absorve o impacto dos reajustes de mensalidades e matrículas em fevereiro. Segundo Santos, este deverá ser o principal fator a influenciar a inflação do mês.
O resultado de janeiro pelo IPCA mostra que as principais pressões vieram de alimentos, que tiveram alta de 0,78%. O avanço foi influenciado por produtos sensíveis ao clima (chuvas e calor), como cenoura (17,87%), batata inglesa (11%), cebola (5,70%) e frutas (2,75%).
O aumento nos preços dos alimentos não foi generalizado. Itens como carne e frango mostraram recuo nos preços. Os alimentos relacionados a commodities, como óleo de soja e farinha de trigo tiveram deflação de 2,32% e de 2,07%, respectivamente. Estes itens foram influenciados pelo patamar “mais confortável” da taxa de câmbio.
As maiores contribuições individuais vieram de energia elétrica e ônibus intermunicipais. Ambos tiveram impacto de 0,06 ponto percentual sobre o índice. O reajuste de 13% nas tarifas da Ampla, antiga Cerj, anunciado em 31 de dezembro foi o principal fator a pressionar o item energia elétrica. Já os ônibus intermunicipais registraram alta de 5,23%, com aumentos significativos em diversos Estados, com destaque para Rio Grande do Sul (17,70%), São Paulo (7,87%) e Recife (4,53%).
O efeito da nova rodada de aumentos do aço pôde ser verificado em itens como automóveis novos (1,27%), eletrodomésticos (1,35%) e reparos (1,43%). Juntos, eles exerceram pressão de 0,07 ponto percentual sobre o índice. Na avaliação de Santos, não existem indícios de que os aumentos do aço tenham acabado.
O último Relatório de Mercado, organizado pelo Banco Central a partir de consultas a mais de uma centena de instituições financeiras, apontava uma expectativa de inflação de 0,80% em janeiro, levemente abaixo do resultado de dezembro.
O IPCA-15 já havia apurado alta de 0,68% no mês passado. O indicador funciona como uma prévia da inflação do mês, a diferença entre os índices está no período de coleta. Na metade do mês passado, já era possível verificar o efeito das altas de alimentos, energia elétrica, automóveis e educação.
Das 11 regiões metropolitanas que fazem parte da pesquisa, o maior índice do IPCA em janeiro foi verificado em Fortaleza (1,01%). São Paulo e Rio de Janeiro tiveram alta de 0,53% e 0,76%, respectivamente.
O levantamento do IBGE é realizado em São Paulo, Salvador, Curitiba, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Brasília, Goiânia, Fortaleza e Belém. O índice se refere a preços de produtos e serviços consumidos por família com rendimento de 1 a 40 salários mínimos.