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Inayá: o conhecimento que se cristaliza no tempo

A Profª Inayá Bittencourt e Silva tem mostrado, ao longo de sua vida profissional, a generosidade própria das grandes pessoas, daquelas que vieram ao mundo para construir, de peito aberto porque em sendo leais não perdem energia em armar-se contra eventuais inimigos. A Professora, na escada preparatória, venceu degraus com dinamismo, ideal e capacidade de transformar conhecimentos, aplicando-os em sua luta diária. Com visibilidade natural e detendo uma luz forte (até ofuscante), realizou uma série de bons serviços à comunidade. A história, ao se distanciar dos fatos geradores, ainda vai fazer (muito mais) justiça à caríssima mestra que, por indicação da Sarah Coelho Silva, é destaque desta página. A Profa. Inayá, em cada resposta, dá uma lição de vida. Vale conferir…

JA- Qual a sua formação profissional?

I.B.S- Temos três licenciaturas, Ciências Sociais, Matemática, Pedagogia e mestrado e doutorado em Política Educacional. Toda nossa formação é voltada para o exercício do magistério, então, nossas atividades profissionais têm se desenvolvido de forma exclusiva na educação. Mesmo quando exercemos as funções burocráticas de diretora de escola e de supervisora de ensino não deixamos as salas de aula, nem como aluna e nem como professora.

Qual o retorno obtido na formação de docentes?

No magistério não se obtém um retorno nem absoluto nem imediato. Uma série de fatores intervenientes pode influenciar os resultados pretendidos. Um deles é o engano, por parte do aluno, na escolha da carreira; a falta de vocação, provocada por razões as mais diversas, impede um envolvimento maior da pessoa com o curso escolhido provocando seu desinteresse. Outro fator, notado de forma mais marcante atualmente, são as condições desfavoráveis enfrentadas pela maioria dos alunos para realizar seus estudos, trabalhando durante oito horas por dia e estudando à noite. Mas, por isso mesmo, diante de todas as dificuldades, é muito gratificante quando tomamos conhecimento de que o aluno superou os desafios e nós, os professores, de alguma forma contribuímos para a formação de um profissional consciente, crítico e capaz.

Quais as condições para um bom profissional de educação?

As condições são várias, porém a prioritária é, sem dúvida, ter vocação para ensinar; acreditar no que faz e gostar de fazê-lo. Não é uma carreira fácil, mas é muito importante, embora nem sempre seja reconhecida.

A mulher de hoje é mais ocupada, trabalha mais?

Acreditamos que, de certo modo, sim. A evolução dos costumes na direção do reconhecimento dos direitos da mulher e da sua condição de cidadania lhe deram oportunidade de demonstrar suas aptidões e potencialidades em campos antes reservados aos homens. Hoje é difícil encontrar uma mulher que não exerça algum papel fora do lar. Ela acumula suas funções de dona de casa, esposa e mãe com alguma outra atividade profissional, complementando com seu trabalho a renda familiar.

Essas chances de trabalho tornam a mulher mais feliz?

A questão da felicidade é muito relativa. Para o poeta Vicente de Carvalho a felicidade:

“…. é uma árvore arreada de dourados pomos

Que está sempre apenas onde a pomos,

Mas nunca a pomos onde nós estamos”.

Entretanto, qualquer pessoa que se sinta útil tem mais motivos para se sentir feliz. Aplicar talentos e realizar vocações, do nosso ponto de vista, é um dos caminhos para realização pessoal e alcançar a felicidade. É assim no caso da mulher, notadamente nos casos em que ela consegue equilíbrio entre suas tarefas no lar e fora dele. Um detalhe é indiscutível: houve ganhos consideráveis com a intensificação da participação feminina. A qualidade de vida e a beleza do mundo, com certeza dependem, em primeiro lugar, das mulheres.

Como foi a sua presidência na União Cívica Feminina?

Por dever de ofício, tínhamos uma participação constante nas comemorações cívicas da cidade e sempre nos fazíamos acompanhar por alunos do colegial e por universitários. Este fato foi notado pelos promotores dos eventos e talvez explique a escolha do nosso nome para presidência da entidade no biênio 1975-77, uma vez que se pretendia manter como titular uma professora. A vice-presidência também foi ocupada pela professora Ruth Drouet, esposa do então vice-prefeito de Araraquara, como a maioria dos demais cargos.

Qual a importância desse movimento?

A União Cívica Feminina foi um movimento que nasceu da iniciativa das mulheres preocupadas com a situação de instabilidade política de um período difícil da história brasileira. Tinha como pano de fundo a ética e cultivava o sentimento de nacionalidade, o civismo e o respeito à família. Não foi compreendido, ao seu tempo, por uma grande parte da sociedade. Até hoje deparamos com interpretações póstumas (pois o movimento se esvaziou) completamente deturpadas a seu respeito, baseadas, talvez, no ouvir falar. Existem alguns movimentos que não são entendidos de imediato. Uma distância no tempo os torna, às vezes, mais inteligíveis. Outro exemplo disso é o Projeto Rondon, cujos méritos são reconhecidos neste momento. Apesar das mudanças políticas observadas ele está sendo reativado pelo Presidente da República. Eram ambos movimentos similares, paralelos, orientados pelos mesmos ideais. Por essa razão, como representante do Projeto Rondon na cidade e ao mesmo tempo presidente da União Cívica Feminina, nós reunimos, com o apoio do então Prefeito Municipal, Clodoaldo Medina, as duas instituições em uma mesma sede.

Fale sobre sua participação no Rondon e os benefícios aos estudantes?

Foi uma experiência valiosa poder colocar os estudantes em contato com a realidade nacional ao enviá-los para prestar seus serviços técnicos e sociais, em regiões remotas, nos mais diferentes estados brasileiros, tais como Acre, Amazonas, Piauí e Bahia, entre outros. Em seguida receber os agradecimentos das autoridades anfitriãs pela qualidade do trabalho realizado. O projeto afirmou-se, portanto, como fator de inclusão social de camadas menos favorecidas. Pudemos avaliar também o outro lado do movimento ao receber uma equipe de oito universitários baianos que vieram trabalhar nas áreas de educação e saúde no município de Américo Brasiliense. O testemunho dos rondonistas enviados nas várias operações – operação nacional, regional e Campus avançado – registrado em seus relatórios de trabalho, mostra a importância das experiências pelas quais passaram, a satisfação de sentir-se útil ao oferecer, em caráter voluntário, a populações carentes, atividades ligadas à carreira escolhida e constatar que se fortaleceu o sentido de pertencimento ao país. Despertaram, também, os participantes para a realidade em que vive grande parcela dos brasileiros.

O retorno do Projeto Rondon representa para nós o reconhecimento do valor dos serviços prestados. O tempo, como grande construtor, coloca os fatos em seus devidos lugares e nos oferece uma perspectiva mais próxima da realidade, minimizando os efeitos emocionais deformantes do viés ideológico. Podem ser vistos agora com mais nitidez os traços de um projeto educacional e de uma proposta pedagógica permeando, de maneira implícita, a filosofia que fundamenta com mais evidência o Projeto Rondon e um pouco menos visível a União Cívica Feminina. Este fato é reconhecido pelo presidente da União Nacional de Estudantes ao solicitar ao Presidente da República que o projeto seja retomado pelo Ministério da Educação como instrumento de extensão acadêmica.

Qual sua visão sobre experiências vividas?

É evidente que nossas experiências decorrem diretamente das atividades desenvolvidas. Por mais diversificadas que possam parecer, têm em comum um eixo norteador que sempre as unificou e sustentou: o objetivo educacional. Essas experiências nos orientaram ainda para a última etapa realizada (não final) de nossa formação, no doutorado, onde discutimos um tema muito preocupante e debatido no presente momento, a pluralidade cultural; a questão dos preconceitos, dos racismos, das discriminações e do desrespeito aos diferentes.

Mensagem…

Na linha das preocupações, citadas anteriormente e levantadas em nosso último trabalho, gostaríamos de deixar para reflexão dos leitores um pensamento de Martin Luther King, muito oportuno: “Pode ser verdade que seja impossível decretar a integração por meio da lei, mas pode-se decretar a não segregação. (……) pode ser verdade que a lei não seja capaz de fazer com que uma pessoa me ame, mas pode impedí-la de me linchar”.

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