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É importante soltar a fera que existe em você

Marilene Volpatti

Manter os bichos acorrentados dentro de nós só serve para acumular problemas que explodem no futuro.

Normalmente, quando um casal se separa e existe filho pequeno dessa união, o resultado é, no mínimo, triste. A criança que ama a ambos, não entende o por que da separação. Só sabe que seu pequeno mundo, até então seguro e feliz, virou de cabeça para baixo. Ela passa a odiar os pais e solta sua raiva da maneira que mais lhe convier. São pratos que voam ou brinquedos atirados na parede. Isso é uma maravilha, ela consegue expressar sua raiva. E importante que possa continuar a fazê-lo, pois, só assim evitará sofrimentos armazenados, trancados a chave, crescendo e supurando com o passar do tempo.

É a raiva reprimida, voltada para dentro de nos, que gera depressão. Pode até levar à depressão grave, deixando o indivíduo tão esgotado que o torna incapaz de providências para sua própria defesa

Infelizmente, a nossa cultura não permite expressar nossa fúria. Desde crianças somos repreendidos: “é feio ficar zangado”. As mães se desesperam ao primeiro sinal de fúria das crianças. Os pais ameaçam castigá-las. Tudo pela boa educação…

Jogo de cintura

Costumamos dizer que ficar zangado é uma grave grosseria, é deselegante, é uma atitude de selvageria. Mas, pode não ser. Sabendo usar de maneira certa, a raiva é positiva e energizante. Coloca-nos em contato com nossos sentimentos mais profundos. Ficar furioso – o que é diferente de irritado -, não dá para fingir, não tem como disfarçar. Ela tem que ser colocada em algum lugar, mas, que lugar é esse? Como delinear nossos limites? Por exemplo, dar um tapa na cara de alguém, por mais que dê vontade. O que poderia substituir essa raiva então? Muitos terapeutas acreditam que perder as estribeiras, eventualmente é justificável. Assim, temos a permissão de quem entende, embora com certas restrições. O local é uma delas. Sê, por exemplo, estiver num restaurante e alguém que te acompanha faz sua raiva subir, contenha-se. Em lugar público, de maneira geral, convém controlar a raiva – o que não quer dizer negá-la – enquanto espera a primeira oportunidade para falar, delicadamente, mas, firme: “estou muito zangado” . A raiva possui grande energia e acabamos perdendo-a se a comprimirmos por muito tempo.

O passado

Quem não possui calcanhar-de-aquiles? Todos. Na próxima crise de raiva, quando estiver esquentando a cabeça para descobrir se a raiva é atual, ou se foi seu lado infantil que reagiu mais uma vez ao tocarem em alguma ferida mal cicatrizada, relembre, analise, passe a limpo e você se sentirá melhor da próxima vez. A raiva mal canalizada pode ser perigosa; portanto, quanto mais cedo cuidar dela, melhor.

Cristina quando criança, foi deixada pelo pai numa casa de crianças carentes. Cresceu, levando consigo a experiência de ter sido “abandonada pelo próprio genitor, aos seis anos”. Depois de adulta, ainda sente muita raiva quando percebe que é colocada de lado. Em qualquer situação, que deixa-a tremendamente raivosa procura analisar se é da infância ou da vida adulta a raiva que está sentindo. Quando criança armazenou toda raiva no coração, não encontrou meios de colocar para fora devido ao medo do pai.

Agressão

Por mais que se sinta vontade, agredir alguém fisicamente não é a melhor maneira de colocar a raiva para fora. Assim como não são reações adequadas gritar, insultar ou demonstrar a raiva mais tarde, aquilo que costumamos chamar de vingança. Se quiser ter razão, o melhor caminho é declarar o ponto de vista clara e calmamente.

Não é fácil ficar calmo se você encontrou uma outra na sua cama com seu marido, ou descobre que aquela viagem que tanto sonhou, ele fez com a outra. Mas não é avançando no pescoço dele, mordendo a jugular, que vai resolver seus problemas – isso custa a dignidade e respeito próprios. É expressando o que sente de fato, que vai conseguir atingi-los.

Manter o controle significa poder tirar o peso todo de dentro do peito. Se gritar, não conseguirá ouvir os próprios pensamentos e, depois, quando estiver sozinha, ficará danada consigo por não haver dito as frases brilhantes que lhe ocorrem.

Solução e remorso

Uma forma rápida e sadia para solucionar os sentimentos de raiva, é dizer cristalinamente, como nos sentimos com a provocação. Em vez de berrar, “seu peste, como pode fazer isso comigo?”, devemos dizer, “estou me sentindo ferida e traída com isso”. Usar mais o eu e menos você. Se a raiva for demonstrada em uma série de ataques, tipo “você fez isso, fez aquilo”, estará apenas colocando o outro na defensiva e ele certamente não dará ouvido ao que diz. Mas se disser como se sente, assumindo os sentimentos, o outro receberá o recado imediatamente.

A raiva não aparece se não for provocada. Não tem como negá-la. Se sente medo de perder o controle, fuja da zona de risco por um tempo. Mas volte depois e coloque os pingos nos ís. Não arquive a raiva. Todo mundo tem medo da raiva, principalmente da própria. Não podemos deixar que nos amedrontem. Ela não é vergonha, é um meio de veicular diferenças, afirmar-se e crescer.

E o remorso? É mais uma forma de negação. Acreditamos que nossas palavras magoaram o outro e queremos reparar. Mas se tínhamos o direito de nos zangar e se agimos dentro dos limites, então não fizemos nada de errado. Precisamos aceitar que o amor e o ódio coexistem.

O bom, numa relação madura, é isso: um entende as eventuais explosões do outro, não permitindo que se danifique o sentimento de união, a gostosa e salutar cumplicidade.

Serviço

Consultoria: Drª Tereza P. Mendes – Psicoterapeuta Corporal – Fone:- 236-9225

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