Da Redação/opinião
A história brasileira é marcada fortemente pela pessoalidade de seus governantes. Chefes de Poder que se apresentam como heróis, salvadores… De Vargas, passando por Jânio, Jk, chegando a Collor, Lula e Bolsonaro, para mencionar alguns líderes nacionais.
Esta personificação do Estado – que vai na contramão de impessoalidade própria de uma República -, de outro lado, pode estimular práticas populistas. A velha “forçação de barra”, em que o representante apresenta-se como membro do povo, ainda que, fora dos holofotes, tenha todo o conforto e benesses da mais alta elite.
Por que estamos falando sobre isso? Porque, com esse histórico, fica às vezes complicado distinguir uma prática populista de outra, tipicamente republicana. Exemplo? Fotos ou encontros com multidão (de apoiadores, claro). Em nível municipal, podemos encarar, por exemplo, o “café com a população” de que maneira?
Pois é. De um lado, pode-se defender que é um estímulo ao contato entre representante e representados, o que é desejável. Mas será verdadeiramente prático, útil e produtivo à Administração Pública?
Alguns problemas são identificados na prática em Araraquara. Primeiro, a forma de tentar esse contato é restrita. Segundo informação da assessoria de imprensa, deve-se agendar mediante o fone 3301-5255 (do gabinete). Por que não usar uma ferramenta objetiva e fácil na internet?
Outro ponto. De novo, por mais elogiável que seja esse contato estreito, que resultados práticos esse “café” trouxe para municipalidade? Esse ponto é relevante, exatamente, para afastar alegação de populismo e promoção de belos momentos para fotos. Até porque a estrutura do “orçamento participativo” já atenderia tanto necessidade de contato direto quanto de “laboratório de ideias”.
Claro que tomamos o exemplo local como ilustração, sem, na verdade, caracteriza-lo de populista. Vale observar como se dá, procurando melhorar a prática e afastar risco de propaganda política. Governante – na cidade, Estado ou União – não é herói, é mero representante de todos. Como tal, sua responsabilidade aumenta, como aumenta, também, a necessidade de transparência e prestação de contas.
