JPP (*)
Tive o privilégio de cobrir o evento na condição de repórter da Folha de S.Paulo e como a reportagem comete incorreções, enviei o seguinte texto para a redação do jornal:
“Parabéns pela matéria publicada na edição de hoje do caderno “Folha Ribeirão”, que lembra os “Guariba, 20 anos depois”.
Há, porém, duas incorreções: a primeira, é que o fotógrafo se chama Osmar Cardes e não Osmar Cortes. À época, Osmar Cardes trabalhava na Assessoria de Imprensa da Prefeitura de Ribeirão Preto e foi contratado por mim, na condição de correspondente regional da Agência Folhas de Notícias Ltda, para cobrir os incidentes ocorridos em Guariba na madrugada de 15 de maio de 1984. No mesmo ano, ele ganhou o prêmio Vladimir Herzog com a foto republicada à pág. G2 da edição deste domingo. A mesma foto foi vendida pela Agência Folhas à jornais e revistas brasileiras e estrangeiras.
A segunda incorreção, é que a origem do levante foi um erro cometido pela Sabesp na emissão das contas de água da companhia estatal paulista Sabesp. Todos os moradores de Guariba se sentiram prejudicados e haviam casos de contas com aumentos de mais de 10.000%, sem que os responsáveis pela empresa na cidade soubessem resolver o problema.
Em decorrência disto, é que trabalhadores rurais e moradores da cidade de Guariba destruíram os escritórios e as instalações da Sabesp e atearam fogo aos veículos da empresa.
Para contê-los, foi chamada a tropa de choque da PM lotada em Araraquara que chegou logo depois usando de uma violência poucas vezes vista. Foram os tiros disparados pelos PMs que mataram o metalúrgico aposentado Amaral Vaz Melone, como também foram os tiros disparados pelos PMs que feriram as outras pessoas.
O que se sucedeu em seguida, é que o então chefe da Casa Civil do Palácio dos Bandeirantes, Roberto Gusmão, espertamente, falando em nome do governador Franco Montoro, transferiu toda a culpa e responsabilidade dos fatos aos usineiros que estariam pagando pouco aos trabalhadores rurais.
Os usineiros, por sua vez, acabaram reconhecendo que poderiam melhorar as condições de trabalho de seus trabalhadores e decidiram, por recomendação do então secretário das Relações do Trabalho, Almir Pazianotto, implantar vários benefícios que já eram oferecidos pela Usina Santa Elisa S/A, de Sertãozinho, como o registro em carteira, pagamento de todos os encargos trabalhistas, etc.
Do episódio, além da morte e dos feridos, Roberto Gusmão virou ministro da Indústria e do Comércio e Almir Pazianotto ministro do Trabalho. Não houve nenhuma participação importante e de destaque de nenhum outro político, muito menos do PT” (Ronaldo Knack é jornalista e bacharel em Administração de Empresas e Direito).
Outro dia o TRT encontrou menores e trabalhadores sem registro numa propriedade no assentamento Bela Vista. Por pouco não vincularam o fato aos usineiros. Talvez um dia alguém lembre do fato e faça isto. É uma pena que muitas vezes os fatos não são noticiados como devem especialmente na grande imprensa do Brasil e do mundo. Você está preocupado com o alcoolismo do Lula? É cruel.
(*) É da Sinérgica, empresa assessora das Usinas.