Gravidez na adolescência

Rosa Godoy (*)

De 1970 para cá, tem-se observado um aumento nos casos de gravidez na adolescência, ao mesmo tempo que tem diminuído a idade das adolescentes grávidas. Geralmente, o evento ocorre entre a primeira e a quinta relação sexual e dentre suas principais causas destacam-se:

  • a prática precoce de relações heterossexuais, incentivada pela mídia ou outras formas vigentes de consciência coletiva na nova ordem social, com costumes favoráveis ao uso do corpo e à prática da sexualidade em idades cada vez mais tenras;
  • o não uso ou o uso de métodos anticoncepcionais de baixa eficiência como coito interrompido ou tabelinha, por falta ou deficiência de informações sobre fisiologia reprodutiva e saúde;
  • o pensamento mágico característico da idade que subjaz à crença de que não vai engravidar;
  • o uso de drogas e bebidas alcoólicas, que tem aumentado cada vez mais entre os jovens e que também pode levar ao não uso de anticoncepcionais ou comprometer a eficácia de alguns métodos, em especial, os que dependem da ação direta do usuário no momento da relação sexual, como a camisinha ou o diafragma. Pesquisas revelam que aproximadamente 20% dos jovens entre 16 e 25 anos afirmam ter feito uso de álcool ou substâncias psico-ativas antes da relação sexual responsável pela gravidez em tela. Na mesma população, 55% negam o uso de preservativos.
  • Além disso, um dos mitos mais presentes na adolescência e que leva à gravidez é o desejo da jovem de ser mãe, casar e constituir família própria mesmo sem estofo material para isso. É bastante comum a gravidez ser vista como diferencial entre as adolescentes, com inegável aumento da auto-estima e da projeção social da grávida no grupo social.

    Segundo a Pesquisa Nacional sobre Demografia e Saúde (PNDS), em 1996, 18% das adolescentes brasileiras já tinham tido pelo menos um filho ou estavam grávidas no momento da pesquisa, sendo quase 2 entre 10 mulheres de 10 a 19 anos. O assustador é que este percentual foi mais elevado nas áreas rurais (24%) que nas urbanas (17%). Comparando-se os dados entre as regiões geopolíticas, constata-se que na Região Norte a porcentagem foi mais elevada, de 24% e que os índices mais baixos foram verificados na Região Centro-Leste (13%).

    Os diferenciais são ainda mais expressivos quando entra em foco a escolaridade: quase metade das jovens de 14 a 19 anos sem nenhum ano de escola já haviam sido mães, contra apenas 4% daquelas que tinham entre 9 e 11 anos de escolaridade. De um modo geral, mais da metade (54,4%) das meninas entre 15 a 19 anos, sem escolarização, já haviam ficado grávidas. Entre aquelas com pelo menos de nove anos de estudo, esse índice foi de apenas 6,4%.

    Há ainda que considerar que os dados sobre gravidez na adolescência não levam em conta as gestações interrompidas, sem atendimento em unidades de saúde e que, portanto, não constam das estatísticas oficiais. Sabe-se, por exemplo, que o aborto (tanto espontâneo como provocado) nessa faixa etária também é muito comum e nem sempre constatado estatisticamente por várias razões, entre as quais, o fato de ser prática proibida por lei.

    Parto: primeira causa de internação de meninas de 10 a 14

    Outro fato que comprova o aumento da gravidez na adolescência é constituído pelos dados do Sistema Único de Saúde (SUS), relativos às internações para parto. Por exemplo, entre 1993 e 1997, houve um aumento de 20% no total de partos em mulheres de 10 a 14 anos, constituindo a primeira causa de internação dessas meninas. Em 1994, os hospitais do SUS realizaram 2,85 milhões de partos, sendo que destes, 0,93% ocorreu em jovens entre 10 e 14 anos (26.505) e 22%, naquelas entre 15 a 19 anos (627.000). Em 1997, apesar do número total de partos realizados pelo SUS ter caído para 2,71 milhões; o número de mães jovens aumentou, constituindo 1,23% em meninas entre 10 a 14 anos e atingindo 26,6% do total de partos em jovens entre 10 e 19 anos.

    Com relação à prática da cesárea na população jovem, calcula-se que 25,27% dos partos cesáreas sejam realizados em adolescentes de 15 a 19 anos. Foram 2.718.265 em 1997, lembrando-se que as cesáreas correspondem a 32% do total de intervenções, considerando-se todos os partos.

    (*) É Enfermeira e colaboradora do JA.

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