Gordura visceral, do ‘chope’, diminui função dos rins e aumenta risco de doença renal, diz estudo

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Estudo recente da revista Nature mostrou que o acúmulo de gordura visceral aumenta o metabolismo da proteína cistatina C que, em níveis elevados, é um importante marcador para perda da função renal. Se esse marcador for percebido de forma precoce, emagrecer e mudar hábitos podem evitar a doença renal.

Há vários tipos de gordura no corpo humano e elas se distinguem conforme o local onde são armazenadas. Dentre eles, há o tecido adiposo subcutâneo, que está sob a pele, e o tecido adiposo visceral, presente à volta dos órgãos – que se acumula mais na região do abdômen e é conhecido como “barriga de chope” e “gordura da pochete”. Um estudo da revista Nature, publicado no começo de junho, mostrou que este último, chamado de gordura visceral, pode prejudicar os rins. “O acúmulo de gordura visceral aumenta o metabolismo da proteína cistatina C que, em níveis elevados, notados em exame de sangue, é um importante marcador para perda da função renal. Essa gordura excessiva aumenta o risco da doença renal crônica, que engloba alterações heterogêneas que afetam tanto a estrutura quanto a função dos rins. A doença é progressiva, não tem bom prognóstico e pode culminar no tratamento com diálise”, explica a Dra. Caroline Reigada, médica nefrologista, especialista em Medicina Interna pela Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e em Nefrologia pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. “Pacientes em sobrepeso com maior acúmulo de gordura abdominal devem procurar um nefrologista. Se esse marcador for percebido de forma precoce, emagrecer e mudar hábitos podem evitar a doença renal e suas complicações”, acrescenta a médica.

Os pesquisadores avaliaram os níveis de gordura e fizeram exames com marcadores de doenças renais nos 377 participantes (220 homens e 157 mulheres), com idade média de 56 anos e sem histórico de doença renal. O estudo descobriu que a gordura visceral é realmente a mais perigosa para os rins, já que o tecido adiposo total e o tecido adiposo subcutâneo não mostraram nenhuma associação com os marcadores da doença renal.

Segunda a médica nefrologista, os homens costumam ter mais gordura visceral. “Os hormônios masculinos predispõem a um maior acúmulo desse tipo de gordura, enquanto os hormônios femininos estão relacionados à gordura do tecido subcutâneo. No entanto, com a menopausa, as mulheres começam a acumular maior gordura visceral também”, explica a médica. “Ela funciona como um reservatório lipídico e proporciona proteção. Esse tipo de gordura se localiza mais no abdômen e o seu excesso tem estado diretamente ligado a um maior risco de diabetes tipo 2, resistência à insulina, doenças inflamatórias e outras doenças relacionadas com a obesidade”, explica a médica. Em paralelo, níveis aumentados de cistatina C podem também indicar um risco aumentado de doença cardíaca, insuficiência cardíaca, acidente vascular cerebral e morte. “A cistatina C é uma proteína básica liberada a uma taxa constante pela maioria das células e excretada da corrente sanguínea pelos rins e é um excelente indicador da taxa de filtração glomerular (do sangue pelos rins). A cistatina C é considerada superior à creatinina como marcador para detecção de insuficiência renal leve”, diz a médica nefrologista.

A médica explica que populações mais idosas tendem a sofrer mais com a doença renal crônica, quando a incidência aumenta para 46% dos indivíduos acima dos 64 anos – no geral a incidência é de 10%. A doença renal crônica (ou antes denominada insuficiência renal crônica) é caracteristicamente progressiva. “Ou seja, não há retorno para uma função renal adequada, podendo inclusive chegar ao último grau de disfunção dos rins (que é o grau 5), aquele em que somente a diálise ou o transplante podem salvar a vida do paciente. Neste caso, no Brasil, a doença mais prevalente que vai destruindo as funções dos rins é a hipertensão arterial sistêmica (pressão alta)”, diz a médica. “Mas a obesidade também está relacionada”, acrescenta a médica.

O estudo, segundo a nefrologista, evidenciou um alerta com relação à “barriga de chope” e “gordura da pochete”: “Esse paciente deve procurar um nefrologista para identificar precocemente esse tipo de marcador. Devemos lembrar que a doença renal crônica é clinicamente silenciosa até que os pacientes atinjam o estágio avançado, portanto, muitas pessoas com a doença em estágio inicial não sabem que a têm”, diz a nefrologista. “E, claro, identificando esse maior teor de cistatina C, é importante que o paciente mude seus hábitos, seguindo uma dieta hipocalórica (com menos calorias do que o corpo gasta) para conseguir emagrecer, aliado também ao exercício físico para acelerar a queima dessa gordura”, explica a médica. “Quando esta doença não é controlada, o paciente precisará, assim, iniciar um programa de substituição da função renal, como a diálise, que é um tratamento custoso tanto emocional quanto financeiramente”, finaliza a médica especialista.

FONTE: *DRA. CAROLINE REIGADA: Médica nefrologista, especialista em Medicina Interna pela Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e em Nefrologia pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. A médica é especialista em Medicina Intensiva pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira. Formada pela Faculdade de Medicina da Universidade de Santo Amaro, a Dra. Caroline Reigada participa periodicamente de cursos e congressos, além de ter publicado uma série de trabalhos científicos premiados. Participou do curso “The Brigham Renal Board Review Course” em Harvard. Atualmente é médica do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. Instagram: @dracaroline.reigada.nefro

(Holding Comunicações)

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