Hugo Eduardo Meza Pinto (*)
“Vendedor acumula 17 mil garrafas de álcool em gel, mas não pode vendê-las”, diz manchete do jornal. Nos Estados Unidos, os irmãos Matt e Noah Colvin compraram milhares de garrafas de àlcool em gel e lenços antibacterianos, em diversas lojas. A ideia era lucrar com a lei de oferta e demanda em tempos de COVID-19. Os dois anunciaram esses produtos na Amazon e, em uma hora, conseguiram vender 300 garrafas de álcool em gel a um preço exorbitante. Depois foram obrigados pela própria Amazon a retirar esses produtos, já que ela segue orientações do governo americano para coibir excessos de especulação, em tempos de desespero.
CALIFORNIA
É proibido aumentar preços em mais de 10% em casos de emergência. Nova York proíbe aumentos excessivos e, em Washington, há possibilidade de aplicar leis de defesa dos consumidores. França decidiu tabelar o preço do álcool em gel e coibir preços abusivos. Por lá, a marca mais comercializada aumentou 700%. Aqui no Brasil, o preço do álcool em gel e das máscaras subiu até 161%.
LIBERDADE
Sou a favor da liberdade de mercado, quanto menos intervencionismo os mercados fluem melhor. Porém, eventualmente existem falhas. Na economia, a falha de mercado é uma situação específica na qual a alocação de bens e serviços por um mercado livre às vezes é ineficiente. Como no caso dos irmãos Matt e Noah, houve uma perda líquida de bem-estar social e beneficiamento a custa de uma das piores crises sanitárias das últimas décadas. O momento atual, que o mundo está passando, foge de qualquer previsibilidade. A incerteza e o medo fazem com que os mercados ajam de forma oportunista. É só ver a quantidade de circuit breaker (interrupções de negociações na bolsa brasileira) nas duas últimas semanas.
AUTO EQUILÍBRIO
No mercado, nesses tempos, não funciona. Preços altos de produtos de primeira necessidade enfrentar a pandemia – impedem pessoas de baixa renda e grupos de risco tenham acesso. Além disso, uma inflação desses produtos ocasiona prejuízos coletivos, já que hospitais e centros de saúde comunitários podem ter problemas de abastecimento. Benefício de alguns, prejuízo de quase toda a economia. Além do mais, esse tipo de especulação pode ocasionar uma corrida intervencionista e de limitação de lucros pelo Governo em setores que não precisam de regulação.
O MOMENTO
Exige que o Governo use recursos públicos para disponibilizar bens e serviços que o mercado não dá conta. Com a possível declaração de Estado de Calamidade Pública, que vem sendo decretada pelo Governo, espera-se maior participação do investimento público, principalmente para ajudar a combater a pandemia e diminuir as falhas de mercado. Se Adam Smith, pai do liberalismo econômico, estivesse vivo, não aprovaria especulação de preços ao custo da saúde humana. Existe um ditado que diz: "em tempos de crise, uns choram e outros vendem lenços". A frase não está errada, só que os lenços não precisam ser vendidos excessivamente acima do custo.
(*) É economista e doutor.