Enfrentar o Dragão

Antonio Delfim Netto (*)

O regime de metas inflacionárias sofreu um forte abalo nos últimos meses. Antes e durante o processo eleitoral, o governo permitiu que se ampliasse a liquidez da economia, obviamente para beneficiar o candidato oficial à presidência e hoje estamos colhendo os frutos dessa transigência. Duas vezes a meta foi alterada, produzindo um certo desarranjo nas expectativas da inflação. Até junho de 2000, a sociedade trabalhava com uma expectativa de inflação anual da ordem de 4% ou 5% e hoje as pessoas já esperam uma taxa de 10 % até o final de 2002 e projetam algo como 12% e até 14% para o primeiro trimestre do ano que vem. É uma taxa muito alta, mesmo para os padrões brasileiros, e é quatro ou cinco vezes superior à inflação mundial.

É visível que a variabilidade dos aumentos de preços em torno da média é hoje bem maior do que foi no passado recente. A alteração de expectativas tem sido alimentada com a repetição de manchetes fortes nas edições de jornais e revistas das últimas semanas e nos noticiários da TV. O retorno do dragão da inflação está em todas as capas. Esse desarranjo perturba o funcionamento da economia e vai tornar o combate à inflação muito mais complicado se o processo não for contido desde agora. Levará a maiores restrições ao crescimento econômico pelo mecanismo de elevação dos juros, o que acaba piorando a relação Dívida/PIB e dificultando ainda mais a recuperação da credibilidade externa.

O novo governo terá que reconstruir a confiança interna e externa. Em primeiro lugar deve fixar uma meta de inflação factível, realista, negociar com o FMI e assumir claramente o compromisso que vai sustentá-la. Não pode ser, certamente, a mesma meta de 4%, mas um novo objetivo cujo número central seja algo como 6.5% para 2003 e uns 5% para 2004. Em segundo lugar, terá que dar autonomia ao Banco Central para fazer tudo o que for necessário para atingir essas metas. Será preciso aumentar mesmo a taxa de juros e, como a expectativa de inflação cresceu muito, vai ter que fazer um aumento um pouco maior do que tem sido feito.

O Banco Central dispõe dos instrumentos e de toda a informação necessária para conduzir esse processo de forma equilibrada. A despeito das críticas que se fazem à condução da política, o Banco tem um Departamento Econômico bastante eficiente que pode indicar os meios de alcançar o objetivo de controlar a inflação com o menor custo social possível.

E-mail: dep.delfimnetto@camara.gov.br

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