Marilene Volpatti
Por que algumas pessoas mal conseguem dormir quando um amigo briga com o parceiro? Porque amigos sentem a dor do outro!
Débora foi com uma amiga a um salão de beleza para mudar o corte de seu cabelo. Enquanto o cabeleireiro cortava, sem dó, seguindo evidentemente suas instruções inicias, ela conversou o tempo todo. Quando acordou e olhou no espelho, deu um grito e teve uma crise de choro. “Céus, o que você fez com meus cabelos! Está um horror!”. No salão não teve quem achasse que estivesse feia, mas nada adiantou e ela continuou chorando. Cancelou os compromissos que havia assumido naquela noite e jurou, de pé junto, que não sairia de casa por, pelo menos, um mês.
Como seu desespero não era lógico, Débora pensou que a amiga iria mudar de idéia rapidinho. Mas que nada. Se afundou na cama como uma criança que está entrando na adolescência. Totalmente insegura. Naquele momento Débora sentiu que a amiga estava muito vulnerável como se aquele corte de cabelo revelasse, de repente, o seu eu, um eu feio.
Como Débora entrou em sintonia com o problema da amiga?
Ela se transportou para o seu mundo de uma forma, que pode sentir a dor física e mental. Essa empatia é extremamente reconfortante.
Visão dos analistas
Para especialistas em comportamento, a empatia é o elo de ligação entre as pessoas; o elemento que nos permite interagir com os sentimentos alheios. É uma capacidade inata, que todos partilham. É só observar um berçário, quando um bebê chora o resto acompanha. Apesar de exercer um papel fundamental em nossas vidas, poucas vezes paramos para pensar. E raramente atribuímos nossos problemas às desordens de empatia.
As pessoas chegam aos consultórios de analistas se queixando de depressão, incompreensão e insegurança. Mas, na verdade, estão com distúrbios de empatia. Isto é, perderam a capacidade de penetrar no mundo das outras pessoas, de entendê-lo e lidar com ele.
Superando a antipatia
Tem profissão que requer mais empatia do que em outras. É o caso dos artistas. Se não se colocar na situação de outras pessoas e não vivenciá-la, como conseguiriam representar? Também é a primeira condição para a prática da psicoterapia. O terapeuta precisa ter uma percepção do mundo interior do paciente como se fosse o seu próprio.
Na realidade, essa percepção é vital para todo e qualquer trabalho.
Um grande exercício para o crescimento pessoal, segundo os psiquiatras, é tentar transformar a antipatia em empatia. É procurar ver o que nos irrita no outro e buscar em nosso interior os motivos dessa irritação. Normalmente, são os pontos mal resolvidos dentro de nós mesmos. Outra coisa para alcançar a empatia é saber escutar.
As pessoas não ouvem com a intenção de entender. Ouvem com a intenção de argumentar. A essência de escutar com empatia não é concordar com alguém; é procurar entender o que ele quer dizer.
Bem e mal
A empatia não transforma o indivíduo, automaticamente, em alguém confiável. Da mesma maneira que podemos usá-la para o crescimento pessoal, somos capazes de utilizá-la para tirar vantagens. Isto é, explorar, manipular as outras pessoas. Exemplo típico é dos criminosos. Eles sabem o que significa ser uma vítima, porque todo estuprador ou assassino foram vítimas a certa altura da vida. O problema é que não se importam com isso.
Há também aqueles indivíduos que só pensam neles próprios, sem nunca levar em conta os sentimentos alheios. Não se colocam no lugar do semelhante para ter a idéia do que ele está sentindo. Quanto mais tempo esse indivíduo permanecer isolado, mais dificuldades tem para mudar. E essa ausência de empatia pode custar caro – na maioria das vezes é uma vida emocional estéril. É comum encontrar em pessoas que tiveram infância problemática. Em vez de cultivar a empatia, por meio de trocas com os pais, elas só pensam na maneira como a família pode servi-las.
Isto não quer dizer que os problemas de infância impedem o desenvolvimento da empatia. É só o indivíduo ter noção desse seu lado negativo e trabalhá-lo.
Tem casos que a empatia é tudo o que uma pessoa precisa para superar um problema. É o que acontece com as obesas que não conseguem serem atendidas por seus médicos, amigos etc. Procuram, por exemplo, os Vigilantes do Peso, onde expõem suas dificuldades para emagrecer.
É um ambiente, do qual, quem frequenta, entende a compulsão que existe para comer, porque vivem a mesma situação. Com isso, ganham forças entre si e conseguem perder peso.
A maioria dos grupos de auto-ajuda, tipo Alcoólicos Anônimos, Fumantes Anônimos ou Vigilantes do Peso, trabalha com a empatia para atingir seus objetivos. As pessoas se desnudam umas na frente das outras e descobrem seus pontos em comum. Com isso estabelecem vínculos que ajudam a superar o problema.
Como cultivar a empatia
É preciso tomar consciência de alguns fatores que, tradicionalmente, funcionam como barreiras de aproximação. Analistas em comportamento afirmam que costumamos nos empatizar com pessoas que admiramos, mas que não nos ameaçam. Beleza e inteligência em demasia, por exemplo, assustam. Por isso são complicadores.
O desenvolvimento da empatia está ligado à aceitação de que não há uma verdade absoluta. Conforme reconhecemos que existem duas verdades – a nossa e a do outro – conseguimos nos abrir para as razões alheias. Partindo daí, somos capazes de criticar a atitude, não a pessoa. E mais, apontamos os comportamentos que nos incomodam e, ao mesmo tempo, deixa-se claro que isso não significa desamor.
Bicho de sete cabeças? Evidentemente que não. Os psicólogos acreditam que para as mulheres é mais fácil desenvolver a empatia do que para os homens. Como elas têm mais contato com os próprios sentimentos, não se atrapalham tanto com as emoções dos outros. Dá para perceber que já é um ótimo começo. É só querer aprender a viver bem e mais facilmente.
Serviço
Consultoria: Drª Tereza P. Mendes – Psicoterapeuta Corporal – Fone:- 236-9225.