Antonio Delfim Netto
A semana foi agitada pela flutuação da taxa do dólar e pelo aumento do risco Brasil, movimentos atribuídos ao resultado de pesquisas que mostram o avanço da intenção de voto no candidato do PT à Presidência da República. Pode-se concordar que há uma tensão produzida pelo processo eleitoral e que a aversão ao risco cresceu no exterior em relação aos chamados países emergentes, mas não devemos perder de vista que são os problemas internos de nossa economia que estão na origem dessa agitação no mercado cambial.
É preciso, portanto, observar corretamente as causas desse aumento de volatilidade, olhando um pouco além daquilo que o presidente do Banco Central classificou de “exagero cambial”, induzido pelas variáveis eleitorais. Não é muito fácil situar até onde pode ir esse exagero, porque a única coisa que se sabe a respeito do câmbio flutuante é que ele realmente flutua. As taxas sobem e descem, mas não crescem indefinidamente, na medida em que tenhamos boas âncoras fiscal e monetária. Não se pode ignorar também que uma boa parte dessa excitação foi produzida pela atitude do próprio governo na tentativa de demonizar a candidatura oposicionista, na ânsia de melhorar a posição de seu candidato nas pesquisas.
As dificuldades que estamos vivendo se devem ao fato que os fundamentos de nossa economia não são tão bons como o governo proclama. A par de um equilíbrio fiscal precário, temos uma economia que não cresce, que acumulou nesses últimos oito anos uma dívida interna imensa e uma dívida externa respeitável e transfere como legado ao futuro governo uma situação de extrema dependência em relação ao exterior. Deixa ainda como herança problemas sociais perturbadores devido aos altos níveis de desemprego, ao aumento da insegurança e à queda da renda salarial.
Nenhuma dessas condições será agravada pelo fato de que vamos ter eleições e que é forte a possibilidade de mudanças na condução da política econômica. Não há por que temer as conseqüências de uma nova política que priorize o crescimento e o emprego, em lugar da subserviência ao que se imagina seja o desejo dos agentes dos mercados. Nossas instituições estão funcionando e demonstram bastante solidez. Acredito que dessa eleição sairá um governo capaz de vencer as atuais dificuldades com paciência, persistência e respeitando os contratos. Ele terá poucos graus de liberdade, mas o suficiente poder para realizar o que na minha expectativa será o desejo manifestado nas urnas: mais desenvolvimento e menos mercadismo.
(*) e-mail: dep.delfimnetto@camara.gov.br