Antonio Delfim Netto (*)
Um dos sinais mais animadores de que a atividade econômica vem reagindo nos últimos meses é o aumento dos investimentos em bens de capital que se observa tanto na demanda interna como nas importações. O crescimento também se verifica nas compras de insumos para produção. A importância dessa retomada é que o investimento de hoje é que vai produzir amanhã o efeito mais desejado pela população brasileira: o aumento da oferta de empregos. Isso vai ser ajudado pela recente medida que desonerou parcialmente os investimentos em bens de capital. Embora o governo não tenha feito da maneira completa como sugerido pela Comissão Especial de Reforma Tributária do Congresso, a direção é correta e favorece a intensificação dos investimentos.
Essa recuperação, ainda tímida, pode ser creditada à competente administração da política econômica, com o retorno à estabilidade e uma boa execução fiscal em 2003, coadjuvados pelo início (tardio) do processo de redução da taxa básica de juros. Infelizmente foi um ano em que se ampliou a tragédia no mercado de trabalho e desastroso em termos de renda do trabalhador. O desemprego aumentou nos primeiros meses e terminou o ano no mesmo nível de dezembro de 2002, com o agravante que toda a absorção de mão de obra se realizou no mercado informal. A renda do trabalhador – segundo o IBGE – teve uma queda de 10 %, aprofundando o declínio dos anos anteriores de triste memória!
São estes os verdadeiros problemas que a Nação tem que enfrentar: a retomada do emprego e a recuperação da renda salarial que só vão começar a ser resolvidos com a volta do crescimento econômico. O crescimento depende dos investimentos que terão que ser feitos pelo setor privado. São os empresários que vão tomar o risco dos investimentos e é por isso que eles têm que ser motivados, afagados e receber estímulos concretos do governo, em matéria de crédito, alívio da carga fiscal, taxas de juros iguais às de seus concorrentes externos e estímulos para contratar, mediante a desoneração das folhas de pagamento.
Empresários que investem na produção merecem toda a consideração da sociedade e de seus governantes, mesmo dispensando maiores afagos. Merecem, por exemplo, que o Banco Central desvende o modelo científico que os obriga a pagar as maiores taxas de juro do universo, impedindo-os de aumentar a produção e de contratar.
O presidente Lula freqüentou o chão de fábrica; valoriza o trabalho e o emprego, tanto quanto o peão e o empresário. Ninguém vai pedir-lhe explicações da deselegância que dispensou aos empresários brasileiros na recente viagem à Índia. Mas certamente uma mudança de postura é necessária para que o desenvolvimento se realize, para o bem do País e de seu governo.
E-mail: dep.delfimnetto@camara.gov.br