Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves (*)
Durante anos, pensei que a disputa por território fosse coisa extinta, do tempo das descobertas e do desbravamento da terra bruta normalmente dominadas por índios bravios. Ou, ainda, ser um fenômeno resistente até nossos dias apenas em regiões atrasadas ou de política intransigente.
Meses atrás, achei o máximo do atraso o ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, ao mesmo tempo em que era acusado de fraudar e roubar as eleições no seu país, realizar movimento (inclusive com tropas) para anexar ao território venezuelano a região fronteiriça de Ezequibo, potente produtora de petróleo e minerais pertencente à Guiana, protegida pelos Estados Unidos, que ali tem interesses econômicos e estratégicos.
Mas, agora, surpreende-me ainda mais a notícia de que o presidente Donald Trump, que assumirá o governo norte americano no próximo dia 20, pretende unir ao seu país o Canadá, a Groenlândia e o canal do Panamá. Até parece brincadeira, o país detentor da maior economia mundial, baluarte da democracia, defensor do livre comércio e da liberdade dos povos, querer arrebatar terras de outras nações, ou até mesmo todo o território a elas pertencente. É preciso esclarecer essa questão, antes que o conflito se estabeleça. É o momento em que o Mundo mais precisa da mediação da ONU (Organização das Nações Unidas), OEA (Organização dos Estados Americanos) e dos demais países aliados ao truste do hemisfério norte. Trump não deve usar a força do seu país para subjugar os menores e nem prejudicar as nações que, em vez disso, tem o dever de ajudar e, se possível, desenvolvê-las no conceito da globalização econômica.
Polêmico como é, Trump vem pregando a conquista de territórios alheios desde o seu primeiro mandato de presidente (entre 2016 e 2020). Pediu a seus assessores estudos sobre comprar as áreas e anexá-las. A informação é de que, embora pretenda assumir as regiões, não tenciona usar a força. Mas chegou, em entrevistas, a dizer que se necessário usaria o recurso militar, um absurdo. . É nesse ponto que, em vez de inimigos, deveria estar buscando parceiros.
Apesar de forte economicamente, o Canadá só lucraria se se tornasse território estadunidense. Também não seria ruim à Groenlândia, desde que recebesse investimentos compatíveis e potencializadores do desenvolvimento. Já o canal do Panamá é uma questão inteiramente econômica. Trump defende menores tarifas para a sua travessia e parece estar disposto a pagar a conta. Sua anexação poderá fazer parte do plano de defesa do dólar como moeda internacional. O governo Trump já anunciou que fará todos os esforços para que a moeda norte-americana continue como meio de transação internacional e não venha a sofrer a concorrência do Brics – organismo formado pelo Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – que pretende criar uma moeda internacional para utilizar em seus negócios. Trump é contra e promete retaliar com o aumento de impostos nas mercadorias que esses países venderem aos Estados Unidos.
Trump também arrumou problema com o México. Propôs que o Golfo do México passe a denominar-se Golfo das Américas. O governo mexicano reagiu, afirmando que o nome é definido pela ONU e não pode ser mudados.
É importante que o futuro presidente estadunidense evite envolver-se em polêmicas. Isso porque são muitos os países e grupos políticos que contam com o seu apoio para mudar a realidade local. Precisa estar íntegro e forte para dar seu aporte aos aliados, especialmente os da América Latina. Sua ajuda poderá ser decisiva para impedir, por exemplo, a guerra civil na Venezuela. Lá, Nicolas Maduro insiste em tomar posse hoje e Edmundo Gonzales Urrutia, o oposicionista que garante ter vencido as eleições, também está buscando assumir. Sem um apoio forte vindo de aliados externos, a briga será inevitável e sangrenta.
O Brasil também depende da estabilidade do governo e de Trump, que deverá ser o fiel da balança na inconveniente luta entre Lula e Bolsonaro. Forte e representativo, o governante dos EUA poderá ser um eficiente elemento de combate à polarização, que tanto mal tem feito à política brasileira. Que Donald Trump governe os próximos quatro anos olhando para toda a América Latina e não simplesmente para o território e os interesses dos seu país. Dessa forma será melhor a todos…
(*) É dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)