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Dia Internacional da Mulher: origens e vocação

O dia 8 de março, em que se comemora o Dia Internacional da Mulher representa uma data de lutas históricas, pois vincula-se às reivindicações femininas por melhores condições de trabalho, por uma vida mais digna, justa e igualitária. A luta é antiga e contou com a força de muitas mulheres que nos vários momentos da história da humanidade resistiram à dominação masculina.

As primeiras batalhas significativas deram-se a partir da Revolução Francesa, em 1789, quando as mulheres passaram a reivindicar melhores condições de vida e trabalho, participação política, acesso à instrução e a igualdade de direitos entre os sexos. Datam desta época os escritos da feminista francesa Olympe de Gouges que culminaram com a “Declaração dos Direitos da Cidadã” (1791), onde reivindicava o “direito das mulheres a todas as dignidades, lugares e empregos públicos segundo suas capacidades”. Afirmava também que “se a mulher tem o direito de subir ao cadafalso, ela deve poder subir também à tribuna”. No entanto, foi julgada, condenada à morte e guilhotinada em 3 de março de 1793, por seus próprios companheiros de revolução, acusada de “ter querido ser um homem de Estado e ter esquecido as virtudes próprias do seu sexo”. Nesse mesmo ano, as associações femininas foram proibidas na França.

Reivindicações

Na segunda metade do século XVIII, as grandes transformações do processo produtivo que resultaram na Revolução Industrial, trouxeram consigo uma série de reivindicações até então incipientes. A absorção do trabalho feminino pela indústria, como forma de baratear os salários, inseriu definitivamente as mulheres no mundo da produção. Elas passaram a ser obrigadas a conviver com jornadas que chegavam até 17 horas diárias, em condições insalubres, submetidas a espancamentos e ameaças sexuais constantes, além de receberem salários que chegavam a ser 60% menores que os dos homens. Um exemplo típico era a tecelagem Tydesley, em Manchester, na Inglaterra, onde a jornada era de 14 horas, a uma temperatura de 29º, num local úmido, com portas e janelas fechadas. Na parede, um cartaz proibia, entre outras coisas, ir ao banheiro, beber água, abrir janelas ou acender as luzes. Eram freqüentes as doenças, mortes e acidentes.

Colisão

Não tardaram a surgir na Europa e nos Estados Unidos, manifestações contrárias a este terrível cotidiano. O enfrentamento com o patronato e a polícia se tornaram cada vez mais freqüentes. A redução da jornada de trabalho para 8 horas diárias passou a ser a grande bandeira dos trabalhadores industriais. Em 1819, depois de uma situação em que a polícia atirou com canhões contra os trabalhadores, a Inglaterra aprovou uma lei que reduzia para 12 horas o trabalho das mulheres e dos menores entre 9 e 16 anos. Foi este o primeiro país a reconhecer, legalmente, o direito de organização dos trabalhadores. Em 1824, o parlamento aprovou o direito de livre associação e os sindicatos se organizaram.

Nascimento

A criação do Dia Internacional da Mulher foi proposta pela feminista Clara Zetkin (1857-1933, alemã, membro do Partido Comunista Alemão, militante do movimento operário, deputada do Partido Comunista por 20 anos, fundadora e dirigente da revista Igualdade) no Congresso de Mulheres Socialistas ocorrido em Kopenhagen, em 1910.

Para alguns historiadores, o dia nasceu inspirado num incêndio ocorrido em Nova Iorque, no bojo das manifestações pela redução da jornada de trabalho, quando 129 tecelãs da Fábrica de Tecidos Cotton cruzaram os braços e paralisaram o trabalho pelo direito a uma jornada de 10 horas, na primeira greve norte-americana conduzida unicamente por mulheres. Violentamente reprimidas pela polícia, as operárias, acuadas, refugiaram-se nas dependências da fábrica. No dia 8 de março de 1857, os patrões e a polícia trancaram as portas e atearam fogo. As tecelãs morreram carbonizadas ou asfixiadas pela fumaça.

Chamas

No entanto, outros estudos dão conta de que este incêndio teria ocorrido no dia 25 de março de 1911, na Triangle Shirtway Company, na mesma cidade, só que durante o expediente e matando 146 pessoas, 125 mulheres e 21 homens, a maioria judeus. Apesar de não ter constituído mote para a criação do Dia, por ter ocorrido um ano depois da proposta de Zetkin, concorreu para o fortalecimento da luta por melhores condições de trabalho. No local do incêndio, atualmente, funciona uma unidade da Universidade de Nova York e há uma placa onde se lê: “Neste lugar, em 25 de março de 1911, 146 trabalhadores perderam suas vidas no incêndio da Companhia de Blusas Triangle. Deste martírio resultaram novos conceitos de responsabilidade social e legislação no trabalho que ajudaram a tornar as condições de trabalho as melhores do mundo”.

Especial

Outros fatos concorreram para que as mulheres reivindicassem um dia especial, como por exemplo, manifestações em várias partes do mundo: New York, Berlim, Viena (1911); São Petersburgo (1913). Em 1815, Alexandra Kollontai organizou uma reunião em Cristina, perto de Oslo contra a guerra. Neste ano, Clara Zetkin fez uma Conferência sobre a Mulher. Em 8 de março de 1917, trabalhadoras russas de tecelagem entraram em greve e pediram apoio a metalúrgicos. Esta teria sido a greve que teria dado início à Revolução que explodiu em outubro de 1917.

Inversão

No entanto, ultimamente, verifica-se uma distorção em relação a este dia que, à semelhança de outros, começa a ser explorado com finalidade comercial, sob a égide da exaltação das futilidades relacionadas à imagem da mulher na sociedade. Parece estar havendo um “esquecimento” proposital das origens da vocação de luta que marcam a data. É urgente retomar o seu verdadeiro mote, sob o risco de perdermos para sempre um importante espaço de formação da nossa identidade cidadã.

(Rosa Godoy, é Enfermeira e colaboradora do JA).

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