Antonio Delfim Netto (*)
O fato de termos registrado superávit em conta corrente não significa que a taxa de câmbio esteja em equilíbrio. Nossa economia cresceu quase nada em 2003, menos do que 1% (se não for negativo), de forma que não se pode falar de equilíbrio, pois aprendemos que: a taxa de câmbio está em equilíbrio quando o país cresce a pleno emprego sem produzir desequilíbrio no balanço de pagamentos. O ano de 2003 fechou com superávit em conta corrente, o que é importante, mas ele foi acompanhado por uma estagnação da economia, o que significa que há um equilíbrio defeituoso. O saldo comercial de quase 25 bilhões de dólares (24.8) é resultado do maior dinamismo do setor exportador, com a contrapartida de importações relativamente estagnadas.
Se acreditamos que a economia vai voltar a crescer e se a continuidade do crescimento depende da redução da vulnerabilidade externa, vemos que o esforço exportador terá que ser redobrado nos próximos anos. O governo não pode se acomodar às previsões de um modesto aumento de exportações, dos 73 bilhões em 2003 para 80 bilhões em 2004. A meta para crescer míseros 10% tem o inconveniente de afrouxar o esforço do próprio governo e talvez indicar ao setor privado que ele não poderá contar com estímulos suficientes para ampliar nossa participação no comércio mundial. O setor exportador precisa acreditar que o governo está disposto a também correr alguns riscos, precisa de crédito e câmbio e de alivio da enorme carga tributária que desequilibra a competição lá fora.
Numa conversa esta semana com o jornalista Paulo Henrique Amorim, reproduzida em seu canal da UOL-NEWS, comentei que existe em certos setores oficiais a tendência a crer que “2004 está resolvido” e que, de acordo com as previsões de 18 sábios, “vamos crescer 3.5%”. Ora, o mundo vai crescer 3.5% a 4% e então nós vamos ficar onde estamos …
O Brasil tem que crescer muito mais, exportar muito mais, perseguir metas de no mínimo 85 ou 90 bilhões de dólares para começar a reduzir efetivamente a vulnerabilidade externa. Vamos ter que trabalhar muito, pois tenho dúvida de que desgraça alheia ajude. Esse problema dos EUA será superado com rapidez e outras restrições podem ser criadas para nossas exportações. Não estamos no ambiente mais sadio do mundo. É preciso portanto redobrar os estímulos ao setor exportador, com mais crédito e menos impostos como disse, sabendo o governo que esta taxa de câmbio que está aí não é a taxa de equilíbrio.
(*) E-mail: dep.delfimnetto@camara.gov.br