Antonio Delfim Netto (*)
O governo comemora, com muita publicidade, os oito anos de mandato do presidente Fernando Henrique. Na propaganda oficial, a economia brasileira cresceu, deu empregos e aumentou a renda dos trabalhadores. Infelizmente, se olharmos os números da economia real, o panorama é bem diferente. Começando pela renda: os dados do IBGE mostram que o PIB per capita, que mede a evolução da renda dos brasileiros, cresceu menos de 7% em oito anos! Foi um longo período de estagnação da economia e de empobrecimento da população o maior desde quando se iniciou a apuração do índice, há meio século.
Divulga-se que houve um grande avanço social, mas utilizam-se números que não resistem à análise dos fatos. O Índice de Desenvolvimento Humano, o IDH, que o governo afirma que avançou três posições, não difere do que aconteceu nos oito ou dez anos anteriores. Mas foi um crescimento insignificante, próximo de zero.
A realidade é que o comportamento da economia nesses dois mandatos foi decepcionante. A média de crescimento do PIB no período foi de 2,2% ao ano. Com a população crescendo 1.6%, tivemos um aumento da renda per capita em torno de 7% em todo o período, um índice que foi superado muitas vezes em um único ano nos governos anteriores. O argumento de que esse foi o preço a pagar pela conquista da estabilidade é falacioso, pois a economia brasileira já experimentou fases de grande expansão com taxas de inflação sob controle ou em declínio.
O que o governo se recusa a admitir é que a política econômica em todos esses anos revelou um permanente viés contra o crescimento. Foi uma política que desprezou os problemas do setor produtivo, dedicando todas as atenções ao setor financeiro. Assistiu passivamente ao agressivo aumento dos índices de desemprego industrial, quando a produção e os investimentos se retraíram pela impossibilidade de obter crédito ou suportar as altas taxas de juro e a elevação da carga. Abandonou o setor exportado, mesmo diante da evidência que somente com o aumento das exportações o país poderia fazer face aos compromissos da dívida externa que não pára de crescer.
Ao final desses oito anos de baixo crescimento da economia, o que fica para o próximo governo é a exigência de administrar uma robusta crise nas contas externas e uma não menos dramática crise social.
(*) E-mail: dep.delfimnetto@camara.gov.br