Tive um amigo que me surpreendia nos churrascos e nas festas. Ele bebia cerveja ou chope sem parar, sei lá quantos copos! Ao final, ele bebia a tal "saideira" e ia prá casa dirigindo seu fusca numa boa e tranqüilamente, como se tivesse tomado apenas coca ou guaraná.
As pessoas em geral ficam alegres e entusiasmadas nas primeiras doses; daí a pouco, a língua fica solta e a pessoa fala algumas coisas que não falaria normalmente; doses mais tarde, vem uma tontura ou sono e a pessoa começa a ver duas imagens onde existe uma só. Até o rosto dos amigos parece duplo. Dirigir o carro a esta altura é duplamente perigoso: o sono e as imagens dobradas, inclusive dos outros veículos que estão passando…
O mesmo acontece com os calmantes: uns tomam meio comprimido da dosagem mais fraca e ficam calmos ou com sono; outros precisam de dois ou mais comprimidos da dose mais forte.
Existe um fenômeno biológico chamado IDIOSSINCRASIA. Dou o seguinte exemplo: abacaxi após o almoço ajuda a digestão, mas alguém, por idiossincrasia, pode ficar com a digestão parada. Idiossincrasia é, portanto, uma reação ou efeito próprio da pessoa e diferente das demais. Pode ocorrer com alimentos, remédios, etc. Eu tive um cliente a quem receitei comprimidos para micose e ele teve uma idiossincrasia: sentia sono!
Esse cliente foi operado por mim de ginecomastia, que é aquele peitinho que certos homens adquirem. Quando ele veio fazer a revisão dos 40 dias, contou-me que a esposa estava grávida e que estava tendo um corrimento branco na vagina. Perguntei prá ele se o corrimento parecia queijo ricota. Ele me respondeu: "É mesmo, Doutor, parece queijo ricota, credo!…"
Eu não falei prá ele na hora, mas acontece que há muitos anos eu não como queijo ricota, desde que li num livro de Ginecologia que o corrimento da monilíase vaginal parece com aquele queijo. Credo digo eu!
Pois bem, tratei de explicar prá ele que aquele corrimento da mulher dele era certamente a monilíase ou candidíase, que é provocada pelo mesmo fungo que dá o "sapinho" na boca das crianças. Fungo ou lêvedo é um parasita que provoca as micoses, havendo fungos que provocam o bolor ou mofo e os fungos simpáticos que servem para fabricar a popular cerveja.
O sangue humano é alcalino, isto é, o contrário dos ácidos. Os órgãos em geral são alcalinos, mas nosso estômago fabrica ácido para fazer a digestão. Os fungos gostam de ambiente ácido.
Quase todos os bebês costumam dar uma golfada de leite quando acabam de mamar. O leite sai coalhado pelo ácido do estômago e a boca dos bebês fica ácida. Os fungos chamados "monília" ou "cândida" ficam no ar girando da mesma forma que aquelas sementes de "pito de macaco", que parecem hélices. Se as mães não limpam logo as golfadas de leite dos bebês, os fungos da monília atacam causando o "sapinho". Nos primeiros dias, o "sapinho" pode ser curado com solução de bicarbonato, que é alcalino, serve para azia e também para cortar o barato da monília.
Expliquei, finalmente, pro meu cliente que a vagina da mulher grávida fica mais ácida, é atacada pela monília, ela tem o corrimento parecido com queijo ricota e fica com uma coceira terrível por dentro. Ele me respondeu: "Pois é Doutor, o ginecologista da minha mulher falou mesmo que era essa tal de "molina", mas o problema é que a doença pegou em mim e eu fiquei com vergonha de falar prá ele e ele pensar que eu estou com gonorréia…"
O caso desse paciente não seria propriamente de minha especialidade mas, para resolver o problema dele, eu mesmo lhe receitei uns comprimidos de um remédio para esse tipo de micose da uretra.
O resultado foi que ele teve a tal idiossincrasia pelos comprimidos. Tomava e sentia um sono terrível. Ele me telefonou e indiquei um colega para o caso, só que o preconceito dele de que pensassem que era gonorréia foi tão grande que ele foi consultar lá em Ribeirão Preto.
Os fungos que provocam as micoses gostam das partes da pele onde o suor é mais ácido e há fungos que gostam apenas dos pés, outros gostam das virilhas, outros atacam o couro cabeludo e outros gostam dos sovacos.
Ainda bem que, como disse, existe um fungo bonzinho que ataca os grãos de cevada e dá início ao processo fermentativo que resulta na produção da popular cerveja. Esse fungo bonzinho é chamado "saccharomyces cerevisiae". A palavra cerveja vem justamente dessa palavra latina "cerevisiae", do bom fungo.
Ele é bonzinho, mas a literatura médica registra casos de pessoas que, por uma situação de idiossincrasia, são atacadas por essa variedade de fungo e adquirem uma micose que, no caso, recebe o nome de "sacaromicose".
Pois eu li, há anos, numa revista médica japonesa, escrita em inglês, sobre um indivíduo que, numa das ruas de Tokyo, foi tirado do trânsito porque o bafômetro revelou que ele estava com um teor alcoólico alto, acima de 60 miligramas por cento. Lá no Japão, isto é motivo para perda da carta de motorista. O homem gritou bem alto que não havia bebido e foi levado para a Justiça do Trânsito. Chegando lá, ele gritou bravo pro Juiz que não havia bebido. O Juiz não gostou dos gritos e mandou prendê-lo na hora. Na prisão, ele começou a ficar bêbado todas as tardes, sem que tivesse bebidas para beber. No 5º ou 6º dia, ele vomitou um pouco de sangue e veio uma junta médica. Fizeram-lhe uma endoscopia e viram que o estômago dele estava "embolorado" por dentro, atacado pela sacaromicose.
O pão que serviam na cadeia era feito com trigo e cevada. Esse pão, junto com todo aquele "gohan" (arroz) que ele comia era um "prato cheio" para a danada da "saccharomyces" da sua estranha e incômoda gastrite: transformava tudo em cerveja como se fosse uma cervejaria estomacal…
Estando recentemente num barzinho de música ao vivo, vi o garçom servindo cerveja grátis ao violonista, mas sempre com bastante espuma… Eu já havia lido sobre isto e resolvi pesquisar na Enciclopédia Larousse Cultural. Achei a expressão gramatical "CERVEJA DE MÚSICO", cujo significado é justamente: "cerveja despejada do alto para render mais…"
