Casada, mas sem vocação para ser mãe

“Enquanto mergulhava numa banheira de hidromassagem, uma taça de vinho ao alcance de minha mão, pensava em minha amiga Tereza, há vários dias lutando com a catapora da filha de 3 anos. Com certeza não queria estar no lugar dela.” Quantas mulheres pensam exatamente dessa forma?

Marilene Volpatti

Mãe. A palavra tem um som carinhoso, fértil. Mesmo quando pronunciada em tom queixoso ou aos gritos, existe algo nela que é muito positivo. As crianças, principalmente, conseguem repeti-la sem esforço, mesmo tendo a boca cheia de biscoito, pois em seguida vem um copo de leite com chocolate quentinho. Dado pela mãe, evidentemente.

Sem vocação

Quando Luiz e Vera se casaram, combinaram não ter filhos de imediato. Ambos estavam a procura de emprego melhor, ganhando pouco e pagando dívidas. Se não bastasse isso, o apartamento era pequeno demais. Amigos, eram recebidos, um por vez.

O tempo trabalhava a favor do casal. Passavam o dia se dedicando um ao outro, crescendo profissionalmente e também desenvolvendo algumas habilidades culinárias. Receitas, obviamente não indicadas para bebês.

Nove anos de casamento e continuam na firme idéia de não terem filhos.

A maior parte dos colegas de faculdade possui a mesma visão. Com exceção da Cleusa que se casou, logo após terminar o curso, foi morar numa ampla casa, num bairro longe do centro, e começou imediatamente sua carreira de mãe. Vera se perguntava: “de onde vinha tanto instinto de se multiplicar? O que tinha acontecido com a garota super estudiosa, que à duras penas, conseguia se preocupar com a própria aparência e, perdida entre os livros, esquecia até de se alimentar? Existiria alguma poção mágica?”

Adotou gatos

Quem conhece Cleusa concorda: é mãe perfeita. Mas Vera, também segue à risca seus deveres domésticos. Adotou duas gatinhas, alimenta-as nos horários certos, compra brinquedinhos, apara as unhas, limpa as orelhas, dá banho… o veterinário não cansa de elogiá-la.

Há pouco tempo Cleusa comunicou à amiga que está grávida, pela terceira vez. Imediatamente Vera começou a rever as razões para não dar início a sua família. Agora, está trabalhando em casa. O apartamento é grande para acolher um bebê. A conta bancária permite arcar com despesas. Será que seus argumentos se esgotaram? Claro que não. Inventou uma série de empecilhos. O marido possui um trabalho que o obriga a viajar sempre, e ela não quer que o filho veja o pai somente no final de semana. Além do mais acredita não ser certo educar uma criança num bairro tã movimentado como mora. Mas também concorda que se for morar num local tranqüilo, longe dos burburinhos da cidade, morreria de tédio em pouco tempo.

Vera procura se concentrar nos aspectos positivos de ter filhos. Quando visita um casal, que acabou de ganhar o primeiro filho, um agradável cheirinho de recém-nascido invade sua alma. Também guarda fotos de seus sobrinhos e é conhecida como a “tia animadora de festas de crianças”.

A hora não é agora

Não adianta querer se enganar. Nos momentos de maior honestidade, Vera admite que está tentando criar uma visão paradisíaca de família – rostos felizes, cheios de covinhas, muitos beijos e abraços, presentes aos montes e muito amor.

Mas criar um filho não é uma festa eterna, e ser responsável por uma vida que vai depender de si permanentemente – desde o primeiro choro até depois de casado – é um tanto quanto assustador. Vera tem razão.

Quando aborda o assunto com o marido, a resposta é imediata: “Não somos diferentes ou egoístas, simplesmente ainda não chegou a hora de construir família”.

Sociedade cobra

Certa ocasião, durante um jantar, várias mulheres queixavam-se das crianças – notas da escola, roupas sujas, amiguinhos mal criados, etc. etc. etc – quando souberam que Vera não tinha filhos ficaram chocadas e assumiram um ar levemente superior, como se elas e suas “oncinhas” mal educadas fossem exemplos de famílias perfeitas. Essa era a maneira como Vera enxergava as famílias alí representadas.

Esse tipo de atitude inquisitiva sempre surpreende a quem não costuma dar satisfação de sua vida à ninguém. As pessoas, na sua grande maioria, não indagam a respeito da vida sexual, salário, candidato em que votou, mas sentem-se no direito de fazer perguntas sobre um assunto ainda mais íntimo.

Mesmo com todos esses “contra-tempos”, Vera acredita que seria uma ótima mãe. Se considera uma boa esposa, ótima irmã, e excelente amiga. Se no amanhã acordar grávida, tem certeza que dará conta do recado. Mas, por enquanto, continua sendo uma tia superlegal.

Supondo que irá adiar a decisão de ser mãe, por mais alguns anos, fica no consolo de que cada vez mais um número maior de mulheres começa a engravidar por volta dos 40 anos e há até as que engravidam na menopausa. Mas pode ser também que nunca se sinta pronta e acabe tentando ensinar o abcd para seus gatos… E muitas são felizes dessa maneira. Simplesmente optaram por não ser mãe.

Serviço

Consultoria: Drª Tereza P. Mendes – Psicoterapeuta Corporal – Fone:- (16) 236-9225.

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