“Canal Direto com a Prefeitura” inicia especial em homenagem às mães

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Técnica administrativa do Centro Afro “Mestre Jorge”, Viviane Ferreira falou sobre como conciliar a vida de mãe com o trabalho e os movimentos culturais


Programa produzido pela Secretaria Municipal de Comunicação, o “Canal Direto com a Prefeitura” realiza nesta semana um especial de entrevistas com o propósito de homenagear as mães pelo seu dia, que neste ano será comemorado neste domingo, 14 de maio. 
 Nesta segunda-feira (8), a primeira convidada dessa série foi Viviani Ferreira, multiartista, b-girl e técnica administrativa do Centro Afro “Mestre Jorge”, que falou sobre como concilia a vida de mãe com o trabalho e os movimentos culturais como o hip hop e o samba.

Viviani relembrou como teve início sua relação com o movimento hip hop. “Eu venho nesta cultura hip-hop desde os sete anos de idade, quando eu entrei no movimento como backing vocal do meu irmão Fábio. Gravamos o CD ‘Pratas da Casa’ com vários grupos daqui de Araraquara. Nesse universo eu já sinto essa bagagem desde criança porque naquele tempo já tínhamos as formas de vestes e não era com qualquer veste que as mulheres poderiam dançar. Elas não tinham a liberdade de se vestir da forma como queriam e algumas mantêm esse padrão até hoje. Hoje estou com 37 anos, então isso foi há 30 anos. E não foi fácil. Eu ia aos eventos com meu irmão e não havia muitas mulheres no movimento, por isso eu tinha que me vestir a caráter e o meu irmão pegava uma roupa dele e me emprestava”, recordou.

Posteriormente, ela conheceu o break e integrou o movimento que também não contava com muitas mulheres. “Araraquara tinha mulheres que dançavam, mas elas não viajavam para campeonatos. Aprendemos também as forma de vestes. Eu venho de um movimento que não é só hiphop, eu venho do samba. Temos a nossa forma de expressão cultural, mas eu não podia me manifestar da minha forma feminina, de dançar com um shorts, com um tênis, ou seja, tinha um padrão de roupa. Isso se mantém até hoje, porque se você vai em um campeonato de break, é muito difícil você ver uma b-girl usar uma roupa mais acessível. Muitas dizem que machuca o corpo, que é mais fácil para fazer o movimento no chão, mas eu fui muito discriminada pela minha forma de expressão, pelas minhas vestes e por ser multiartista, por escolher vários movimentos dentro da cultura para poder agregar”, salientou.

Viviani conta que sua identificação com o samba também gerou preconceitos no mundo do hip hop. “Fui muito julgada quando fui rainha do carnaval e tive que sair de biquíni. Por ser modelo, o pessoal tirava muito sarro e me chamava de bonequinha do hip hop, rostinho bonito do hip hop, entre outras coisas. Mas o que eu quero passar é que esse rostinho vem de uma militância de muitos anos. Dançávamos break no sinal, me esfolei bastante, dancei muito para a Prefeitura. Aos 16 anos, comecei a dar aula como oficineira, como professora de break nas periferias de Araraquara, ensinando crianças de 6 a 17 anos. Hoje eu estou nessas vestes, mas eu não deixo de ser a Viviani mãe e a Viviani de qualquer momento. Temos que ser respeitadas em qualquer momento que vivemos na nossa transição da vida”, acrescentou.

A multiartista também falou sobre os valores que levou da cultura para a maternidade. “O hip hop te pede muita resistência. Se você não resistir e não persistir, você não consegue. Ele já vem de uma luta, de uma cultura muito difícil. Esses conceitos eu trouxe para a minha maternidade, a partir do momento em que eu engravidei da Pietra. Não precisamos ser fortes a todo momento, mas para ser mãe temos que ter uma resistência”, reforçou.

Viviani destaca a necessidade de uma renovação do cenário do hip hop de Araraquara. “Eu gostaria muito de conhecer a nova geração porque hoje eu não conheço novas b-girls. As pessoas podem me procurar no Centro Afro. Tem a Isa, tem a Nayara, mas eu sinto falta do movimento em si de b-girls, que não tem essa militância. Eu procuro levar, mas uma andorinha só não faz verão. Se não unirmos e não tivermos um coletivo, infelizmente o hip hop de Araraquara, em relação à mulher, vai morrer aos poucos. Os jovens podem me procurar no Centro Afro, podem procurar o Ricardo Leão no Ceu das Artes, tem o Crew que treina lá, é aberto, e o povo de Araraquara pode ir lá toda segunda-feira, às 19h. É só ir e aprender para não deixar essa cultura tão bonita se enfraquecer como vem acontecendo nos últimos anos”, alertou.


Sobre as responsabilidades maternas, ela faz questão de agradecer o apoio que recebe de familiares e amigos. “A equipe que participa comigo do Centro Afro me ajuda bastante. Como mãe, a gente deixa nossos filhos na escola de manhã e só vamos ver à noite. Temos que ter uma equipe de apoio e aproveito para agradecer muito a minha mãe, que amo muito. Agradeço a todos os meus amigos que colaboram quando minha filha fica doente, quanto temos que sair correndo ou quando temos que abandonar o serviço porque aconteceu alguma coisa na escola. Eu sou uma mãe solo, crio minha filha sozinha, mas eu tenho amigos aqui em Araraquara é uma parceria no Centro Afro que me dá todo apoio e colabora para eu conseguir dar uma educação melhor à minha filha”, exaltou.

Ela salienta que o Centro Afro lhe dá todo suporte para superar outros obstáculos na vida. “O Centro Afro me dá uma potência grande na militância e só ali eu consegui proteger minha filha de racismo, de gordofobia. Tem lá a Alessandra Laurindo, que me explica as leis e me estimula a defender minha filha. Lá eu aprendi a defesa e aprendi a saber de onde eu vim, de onde nosso povo veio, aprendi que militar é necessário e passar esse conhecimento para minha filha também é necessário. Ela participa de palestras e muitas coisas que o Centro Afro oferece gratuitamente para Araraquara gratuitamente”, apontou.

Viviani falou sobre o que espera para o futuro. “Como mãe, eu peço paz. Peço que minha filha e os filhos de todos de Araraquara não falem para nós que estão com medo de ir para a escola. Desejo um futuro de paz, mais tolerante e com mais amor pelas nossas crianças, porque o futuro está nelas. Elas têm que ter o prazer de ir para a escola e saber que lá é um lugar de aprender, de brincar e de evoluir, e não de ter medo. E que as nossas crianças pretas parem de ser perseguidas, parem de ser mortas, que consigam chegar ao nível que tiverem que chegar como qualquer criança, que possam estudar, se formar e ser alguém na vida como eu estou tendo essa oportunidade de ser”, concluiu Viviani, que encerrou sua entrevista exibindo uma rosa que ganhou de sua filha Pietra, a quem declarou seu amor.


Ao vivo

O “Canal Direto com a Prefeitura” vai ao ar de segunda a quinta-feira, às 12h30, na página da Prefeitura no Facebook. A íntegra dos programas continua disponível para visualização no próprio Facebook e em outras plataformas digitais, incluindo o formato de podcasts.
SECRETARIA MUNICIPAL DE COMUNICAÇÃO
PREFEITURA DE ARARAQUARA

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