Vera Botta (*)
Bom dia companheiras (os), a todos com quem queremos compartilhar o desafio de conduzir o Partido no próximo período. Penso que nós todos que estamos aqui temos em comum a convicção de que é possível ao PT cumprir as tarefas de agente transformador, desde que rotas sejam revistas como parte da retomada do legado do PT. Tenho pensado muito em nossa história, nessa ligação forte, visceral que temos com o PT. Na dedicação de muitos companheiros de toda uma vida. No desvio de caminhos de outros que talvez tenham começado a lidar com o poder como um fim em si mesmo, assim como tenho pensado na desistência dos que optaram em sair do Partido por achar que o PT acabou. Situações que têm me levado a repensar, valorizar escolhas, defender a perspectiva do PT ser coerente e inflexível com a transgressão dos valores, com a negação da ética que pautou seus princípios. Sem dúvida, vivemos um momento difícil. Considero absolutamente necessário que possamos nos reunir na defesa de ser o PT portador de um projeto transformador para a cidade. Como diz Frei Betto, talvez não existam explicações lógicas para esta vontade ou invencível teimosia de “querer juntar cacos, costurar retalhos, refazer caminhos, ainda que a roda do moinho deixe a impressão de que nada sai do lugar, de que tudo gira em torno de um mesmo ponto”. Precisamos sair do lugar, arregaçar as mangas e não temer assumir compromissos, conjuntos e solidários com a verdade e a transparência, com a possibilidade, necessária, de aproximar o PT da militância, da sociedade, com a urgência de intensificar canais qualificados e continuados de diálogo e de interlocução com nosso governo.
Reafirmamos neste momento a importância do diálogo franco, do debate, da socialização de problemas, da busca de alternativas, da defesa de fóruns em que problemas da cidade sejam discutidos, com transparência e bom senso. Fazemos a defesa da necessidade do Partido ser o agente coletivo formulador e construtor da militância política, insistimos, não por intransigência ou por qualquer atividade de oposição leviana na urgência da interlocução, através dos canais legitimados entre o partido e o governo (autonomia não significa caminhar em paralelas).
Tais preocupações são expressões de um compromisso que gostaria que fosse assumido em conjunto neste domingo. A presidência do PT neste momento nos impõe desafios que, com certeza, não podem ser enfrentados solitária e autoritariamente. Quero compartilhá-los com a Executiva, com o Diretório, com a militância, com os recém filiados, e com os que já têm mais tempo de filiação, levando às últimas conseqüências o principio da democracia interna.
Sem diálogo e auto-crítica, não se avança. Sem propostas alternativas e sem possibilidade de discutir e acompanhar as metas programáticas do governo, caímos numa cilada.
A defesa de um projeto para a cidade que efetivamente traga mudanças, exige muito. Do PT, do governo, de uma relação que tem que ser sustentada pela transparência e pela confiabilidade, senão ela se deteriora. Tivemos no encontro da eleição municipal e nacional do Partido, quoruns surpreendentes. É preciso ler além dos números. Prevaleceu a vontade de participação, talvez a esperança de novamente ver brilhar a estrela do PT. Talvez, a convicção de que a crise séria, ainda não solucionada, possa ter nos dado a todos, lições. É preciso estar atento aos sinais de alerta.Temos um equilíbrio interno de forças e não queremos reproduzir fronteiras intransponíveis para não retroceder. Não estamos nem deslumbrados, nem achando que a construção de elos se faz por receitas mágicas. Tivemos, nesta eleição e estamos tendo, neste processo difícil por que passamos, demonstrações de que se houver uma semente de esperança, mesmo que ela seja pequena como o grão de mostarda, a construção da cidadania e de mudanças podem prosperar, sem prejuízo da ética e dos bons princípios. A todos, meu muito obrigado, aos companheiros valorosos que propuseram minha candidatura, como porta voz de suas reivindicações, aos outros que apoiaram a chapa Unidade e Socialismo, igualmente minha vontade de tê-los juntos, nos momentos de consenso e de divergências, pois os desafios são muitos.
Que possamos encontrar nesta dura empreitada, pontos de luz que nos permitam solidariamente caminhar juntos. Que neste (re)inicio possamos valorizar o legado petista e continuar a utopia e luta por uma sociedade igualitária e fraterna. Para viver de verdade é preciso ter esperança, qualquer esperança.
Permito-me citar Lya Luft, “Pensar é transgredir”
“Questionar o que nós é imposto, sem rebeldias insensatas mas sem demasiada sensatez. Saborear o bom, mas aqui e ali enfrentar o ruim. Suportar sem se submeter, aceitar sem se humilhar, entregar-se sem renunciar a si mesmo e à possível dignidade. Sonhar, porque se desistimos disso apaga-se a última claridade e nada mais valerá a pena. Escapar, na liberdade do pensamento, desse espírito de manada que trabalha obstinadamente para nos enquadrar, seja livre que for. E que o mínimo que a gente faça seja, a cada momento, o melhor que afinal se conseguiu fazer.”
Que possamos nos unir na esperança de ver o PT na vanguarda das mudanças e da defesa da política com ética.
Meu abraço fraterno ao Vermelho que deixa a presidência do PT e a todos os outros companheiros de Executiva. A cada um dos filiados meu abraço solidário. Mãos à obra que a luta é árdua!!!
(*) É presidente do Diretório.
P.S. Queremos no Encontro Municipal do próximo dia 30 discutir uma agenda de fóruns para a cidade. Mande sugestões para o PT ptararaquara@terra.com.br ou vbotta@techs.com.br.