Briga contra inflação: Recaída “Terrorista”

(*) Antonio Delfim Netto

Tudo aquilo que foi ganho nestes dois anos em termos de redução da dependência externa está ameaçado de perder-se diante da sustentação da política de valorização cambial. A autoridade monetária reage de mau humor quando se diz que o dólar a 2,70 reais é produto da mais alta taxa de juros real do mundo. De nada adianta a tentativa de desqualificar os críticos desta política, atribuindo-lhes a intenção de defender o calote da dívida pública, pois ninguém está forçando a queda abrupta dos juros mas sim a interrupção do processo de alta e a retomada da redução paulatina da taxa básica. A deselegância talvez se explique pelo fato que neste último ano ficaram evidentes as falhas nas estimativas que informaram as decisões de política monetária. Esclarece também o porquê da recaída “terrorista” dos últimos boletins do COPOM.

As distâncias que separam as previsões quanto ao comportamento da economia e seus resultados em 2004 são enormes, tanto no que se refere à taxa de inflação quanto ao crescimento do PIB, à evolução do comércio exterior, os valores da exportação e importação, ao nível da dívida pública, etc. Assim é que a expectativa do boletim oficial do BC de dezembro de 2003 apontava para uma taxa de crescimento de 3,5% do PIB em 2004; terminamos crescendo 5%, o que representa um ligeiro erro de estimativa de 43%… Mais interessante é o comentário que respalda (!) a avaliação, segundo o relatório: “perspectivas setoriais sinalizam expansão de 3,5% do PIB em 2004, sustentada pela recuperação da demanda interna”… observação completada mais adiante pela peremptória certeza que contrariamente ao observado nos últimos anos, a contribuição do comércio exterior deverá ser negativa…” Em seguida projeta em 75 bilhões de dólares o valor das exportações que na realidade terminaram 2004 somando 96,5 bilhões de dólares, uma pequena diferença, portanto, de 30% …

Trabalhar com projeções é algo absolutamente natural na administração da economia. As dificuldades apareceram quando se pretende estabelecer um consenso em torno de “expectativas” infectadas por ondas sucessivas de “otimismo” e “pessimismo” sopradas pelos oráculos de Wall Street e que se propagam pelas economias emergentes pela eficiente e rendosa ação dos fundos de hedge no mercado e na imprensa “especializada”…

O primeiro movimento do COPOM este ano, “atendendo às expectativas do mercado” (que esperava exatamente a elevação da taxa básica para 18,25 %) indica que vamos continuar “trabalhando” para que o Brasil não ultrapasse o limite de 3,5% de crescimento do PIB, “para não comprometer a meta de inflação” que foi projetada para ser 4,5%, mas já foi “ajustada” para 5,1%. Foi essa mesma crença absurda que desencaminhou a política monetária em 2004, sustentando uma taxa de juro real de 13%, que elevou os custos da dívida, comprometeu as finanças públicas e desencaminhou a taxa de câmbio, do que vamos nos arrepender amargamente em 2005.

(*) E-mail: dep.delfimnetto@camara.gov.br

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