Milton F.da Rocha Filho
País sai na frente no desenvolvimento de variedades mais produtivas – e na corrida das patentes
O Brasil tem agora mais condições de assegurar sua posição como maior produtor de café do planeta: cientistas do Consórcio Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento do Café (CBPDC) concluíram o primeiro seqüenciamento genético da planta. O anuncio oficial sai na próxima semana, nas comemorações do aniversário da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), em Brasília.
Os cientistas montaram um banco de dados com 200 mil seqüências do DNA do café, que permitirá entender profundamente o mecanismo de funcionamento da planta. O aperfeiçoamento genético deve gerar uma economia de pelo menos R$ 1 bilhão com os ganhos de produtividade e com a economia de recursos usados no combate a pragas.
O governo federal investiu R$ 6 milhões no Projeto Genoma do Café. O processo contou com cientistas de várias instituições de pesquisa, sob a coordenação da Embrapa e com a participação da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Patentes
Com o seqüenciamento, o Brasil sai na frente no desenvolvimento de novas variedades e, portanto, na corrida das patentes internacionais. Variedades mais produtivas e resistentes serão, em breve, necessárias a produtores de todo o mundo, e o País poderá receber (em vez de pagar) royalties.
Um documento que circula na comunidade científica brasileira relata que o banco de dados chegou a níveis inéditos de detalhamento, a partir do seqüenciamento de bibliotecas de DNA, ou seja, cópias de DNA que representam os vários tecidos da planta (folhas, raízes, frutos, flores e ramos em diversos estágios de desenvolvimento).
“O agronegócio vai usufruir dos avanços proporcionados pelo Projeto Genoma compreendendo, desde o desenvolvimento de variedades mais produtivas e tolerantes à seca até variedades que resistem ao ataque de pragas e doenças que, anualmente, fazem com que os produtores gastem milhares de dólares no controle das mesmas, sem falar nos danos causados ao meio ambiente", diz o documento.
Pequenos produtores
Os cientistas acreditam que toda a cadeia produtiva do café será beneficiada, "especialmente os pequenos produtores (meeiros, arrendatários, assentados), incentivando a produção de orgânicos e a proteção do meio ambiente e do trabalhador rural por meio do uso de tecnologias sustentáveis, proporcionando a inclusão tecnológica da agricultura familiar”, segundo o documento.
Os consumidores também serão beneficiados com a produção de grãos de melhor qualidade quanto a aroma, sabor, teores de cafeína, vitaminas, sais minerais, serotonina e ácidos clorogênicos. Novos mercados poderão ser conquistados.
Recursos
O Projeto Genoma do Café teve custeio direto de R$ 1,92 milhão garantido pelo Funcafé, com R$ 960 mil, Embrapa, com R$ 480 mil, e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), com R$480 mil. Os demais custos envolvidos (R$ 4,08 milhões), relativos a pessoal especializado, laboratórios e infra-estrutura, foram assumidos pelas instituições participantes Unicamp, USP, Unesp, Iapar, universidades federais de Lavras e Viçosa, Instituto Agronômico de Campinas Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), Instituto Capixaba de Pesquisa e Extensão Rural (Incaper).
Os executores do projeto foram:Luiz Gonzaga Vieira, pesquisador do Iapar e coordenador do Núcleo de Biotecnologia do Café no Consórcio; Carlos Colombo, pesquisador do Instituto Agronômico de Campinas e Alan Andrade, pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia.