Antonio Delfim Netto (*)
Com o crescimento da economia em 2004, começa a melhorar a oferta de empregos e o que é muito importante a renda salarial também está crescendo. Nos últimos dez anos de crescimento medíocre do PIB brasileiro o desemprego praticamente dobrou: de um contingente de mão de obra desempregada em torno de 4,4 milhões em 1993, passamos a contar com 8,5 milhões de trabalhadores sem emprego em 2003. Caiu significativamente a participação da renda salarial no PIB, enquanto uma parte do emprego formal refugiou-se na marginalidade. Somente agora, graças à recuperação da atividade industrial que vem ganhando amplitude há 14 ou 15 meses é que se observa a reação positiva no mercado de trabalho, com a taxa de desemprego caindo abaixo de dois dígitos em relação à PEA, algo como 9,5%. É ainda um nível muito elevado para um país como o Brasil, mas o fato de a curva se inverter é um grande resultado. O que não se pode exigir do governo é que elimine o desemprego de um ano para outro.
Estamos chegando ao final de 2004 com o PIB crescendo 4,8%, um pouco mais talvez, com uma expectativa bastante realista que podemos repetir e até superar este nível de crescimento em 2005. Ninguém me convence que o Brasil não possa crescer 6% ou 7% nos próximos anos. Pela primeira vez, neste século, a economia brasileira tem uma taxa de crescimento superior à média de crescimento do PIB mundial, de 3,9% apurados até agora. Não é muito animador constatar que ainda estamos crescendo abaixo da média dos chamados países “emergentes”, (6,3 % este ano) e que vamos crescer menos que China (8,6%) e Índia (6.0%).
O que mais importa para o Brasil é que, além da recuperação de níveis decentes de crescimento, nós tivemos em 2004 uma substancial redução da vulnerabilidade externa que trava a nossa economia. Essa dependência, construída de 1994 a 99 por obra da política cambial no governo FHC (que resultou no déficit de 186 bilhões de dólares em conta corrente), começa a ser minimizada graças ao novo ritmo de expansão das exportações brasileiras. Ultrapassamos 90 bilhões de dólares nos últimos doze meses e vamos chegar ao final do exercício com 9 bilhões de dólares positivos no balanço em conta-corrente. Isso permitiu uma importante melhoria na relação Dívida Líquida/PIB (de 58,7% em dezembro de 2003 para 53,7% em outubro de 2004) e a redução da proporção do pagamento de juros e amortizações sobre o valor das exportações .
Esses resultados vão afastando aos poucos as restrições externas. Somados à recuperação do consumo interno, ao paulatino aumento da renda salarial e à queda dos níveis de desemprego, eles justificam a crença que a economia vai poder continuar crescendo ainda com mais vigor em 2005 e 2006. Hoje, dependemos menos do fator externo e mais dos estímulos internos para manter os investimentos necessários ao desenvolvimento. O sinal de desalento continua sendo a ducha fria no ânimo dos empresários, representada pela política de juros do Banco Central.
(*) E-mail: dep.delfimnetto@camara.gov.br