Alimentamos nossa raiva, solidão, tédio e ansiedade, mas está na hora de aprendermos a deixar as emoções negativas morrerem de fome e passarmos a nutrir apenas as saudáveis.
Marilene Volpatti
Compulsão por comida nada mais é do que uma mistura de substâncias químicas nervosas que agem como neurotransmissores, unindo as células do cérebro e funcionando como combustível para alimentar essa vontade de comer.
Quando nos esforçamos para afastar essa voracidade, em ingerir alimentos, ela só tende a piorar. Por isso é necessário aprendermos a trabalhar com – e não contra a compulsão.
Vez ou outra todo mundo costuma usar da comida para acalmar as emoções. É tão comum que acaba sendo considerado normal e inevitável. Os sinais de perigo aparecem quando passamos a comer em resposta a estados emocionais e não em resposta à fome.
Grande exemplo é o tédio. Entendiada, a pessoa passa a ter estimulação mental mínima, um estado oposto ao da ansiedade, quando a cabeça funciona a mil por hora.
Solidão
Pesquisadores concluíram que as pessoas que lutam contra a tentação de comer se aborrecem com maior facilidade. Normalmente tem hora marcada: quando acaba o dia e começa a noite.
A solidão também leva a comer fora do normal. Na falta de contatos sociais ou de relacionamentos emocionais profundos, uma torta de chocolate ou um pote de sorvete, são excelentes companheiros, pois proporcionam conforto e segurança enquanto amortecem a dor da solidão. Mas no final o resultado é amargo: a pessoa sente-se pior porque engorda, contribui para diminuir sua auto-estima atrapalhando sua relação com os outros.
O fato é que evitar o tédio e desenvolver relações que valham a pena exigem tempo e esforço, enquanto comer preenche o vazio emocional de uma maneira mais fácil e menos trabalhosa. É como se fosse um remendo: só adia a solução.
Ansiedade, raiva e tédio e depressão fazem parte da vida. Usar a comida como compensação ou fuga é uma solução que, ao longo prazo, nos faz sentir péssimos.
Comida não é amor
Comida é símbolo concreto do amor e cuidados. Ao nascermos, aprendemos a confiar em quem nos alimenta e sentimos que na hora das refeições se envolvem carinho e vínculos. Esse forte laço emocional entre comida e amor continua pela vida afora. Em nossa cultura, qualquer acontecimento social ou comemoração, acontecem a volta de uma mesa.
Nossas emoções são confundidas. A mãe diz ao filho que só vai tomar o refrigerante se comer todo o almoço (ou que vai se sentir forte se comer alguma coisa). Essas mensagens durante a infância fortalecem a relação entre comida, recompensa, punição e amor. Quando se ganha uma caixa de bombons do namorado parece que a frase “te amo” vem junto. Comer como um desesperado no dia Primeiro do Ano é considerado normal – quem não exagera parece estar dizendo que não gostou da comida (ou da cozinheira).
Comida também é uma fonte de auto-satisfação, para quem luta contra um trauma.
Pesquisadores da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, dizem que as crianças que sofreram algum tipo de abuso físico e sexual, foram privadas de um dos pais por morte ou divórcio ou tiveram uma infância triste ou violenta podem se transformar em adultos medrosos que, inconscientemente, irão usar a comida para engordar.
Quilos a mais parecem fornecer um escudo que permite à pessoa se sentir menos vulnerável e manter os outros a distância – comer é um jeito de suavizar a dor e se proteger. São também pessoas tão transtornadas pela raiva, resultante de um trauma, que incorporam esse ódio e passam a apresentar comportamentos autodestrutivos, como comer exageradamente para satisfazer a um só tempo a fome física e a dor emocional. É necessário identificar a origem da emoção para tratar do problema. Quando a dor é cuidada, a alimentação emocional pode ser controlada ou simplesmente desaparece.
Corpo dá avisos
Pessoas viciadas em dietas substituem as exigências normais do corpo pela força de vontade. Com isso, perdem a capacidade de perceber o aviso do organismo, como a fome, prestando atenção apenas às instruções dos regimes. Enganam a fome por tanto tempo que não conseguem mais regular a ingestão de alimentos quando a dieta acaba. Associam, equivocadamente, a ansiedade, solidão e outras sensações físicas ou emocionais com a fome.
Etapas
Se você é do tipo que acha que tudo acontece por acaso… até mesmo atacar de sanduíche uma hora depois de jantar ou beliscar sem parar enquanto assiste a tevê, está totalmente enganado. Algo provocou isso. Mas dá para quebrar esse círculo vicioso: ninguém é uma simples vítima de abuso alimentar.
Quem come demais costuma passar por várias etapas. O que costuma provocar a alimentação emocional pode ser uma simples crítica de alguém próximo; aí aparece o pensamento negativo “nada dá certo comigo”, ou sentimentos como depressão ou irritação. Sem perceber, devoramos um pacote de biscoito.
Como controlar
A maneira de controlar essa fome emocional é identificar o que desencadeia a vontade de comer e quais as consequências.
Faça um diário durante uma semana: anote tudo o que come e bebe (em consequência de problemas emocionais ou não), quando e como se sentia antes e depois. Enfim, tudo que estiver relacionado com essa experiência (consequência ou pensamento). Faça as anotações enquanto mastiga, porque a memória é traiçoeira e perde a precisão mesmo uma hora depois de devorar um pote de sorvete.
Pensamentos negativos alimentam a voracidade, portanto identifique-se, escreva cada um deles e corte-os pela raiz. São racionais ou irracionais? Pense em coisas positivas. Grite a palavra PARE mentalmente assim que reconhecer um pensamento negativo.
Depois de identificar tudo o que se passa pela cabeça, antes da alimentação emocional, pode-se desenvolver um repertório de pensamentos positivos para usar sempre que surgir a necessidade de comer.
Preste atenção a que horas tem maior propensão para usar a comida de forma errada. Use desse tempo para um banho, alongamento, cortar unhas… use desse tempo para outras coisa, que não seja a comida.
Aprender maneiras eficazes de lidar com as emoções, sem lançar mão da comida, é uma necessidade. Sua mente e corpo agradecem.
Serviço
Consultoria: Drª Tereza P. Mendes – Psicoterapeuta Corporal – Fone:- 236-9225.